sexta-feira, 23 de junho de 2023

                     

                        quando o amor cumpre seu prazo


                                  


Nítida, calma, a memória descobre-se 

para o que se desfaz nas vagas do tempo. 

Em cada etapa da vida o amor é diferente. 

Há que colher as flores das ausências.

As coisas cumprem-se em sigilo e esperas.

Sem remédio para as feridas, a não ser o sol maduro

da soledade.

Entre os pressurosos anúncios sem data, a ilusão, o engano, 

já são tarefa cumprida.

Quando o amor cumpre seu prazo, já não 

nos decepciona mais. 







 


terça-feira, 20 de junho de 2023




                

           no limiar do adeus



Sinto o cansaço bater nos ossos.

As coisas plácidas me encantam.

Gosto mais de animais do que de gente.

Família tem o peso do mundo.

De todas as coisas que a vida me imputa,

de ser feliz sou inocente.

Estou mais para indecente.

Híbridos sentimentos me assaltam, depois

que deixei de ser casto.

Novos atores, velhos enredos.

Em tudo há infâmias, segredos.

Vejo meu tempo se esgotando gota a gota,

dei adeus à premência.

Acontece que do nada surge o inesperado.

No limiar do adeus, o que falta realizar já se realizou. 

Os deuses não se submetem a barganhas.

Muito menos as Moiras.

O paralém desconhece a sabedoria.

Consta que em Auschwitz não se furava fila.

A verdade de cada um ignora tudo 

que não lhe convém.

A coisa mais bem repartida do mundo

é a burrice (apud Murilo Mendes).









   




                o vício da cura





Carrego um pouco de tudo

Pedras preciosas e entulhos

Coisas que vou garimpando

Nos descampados do mundo


Sou um pouco de tudo

Gente fina e vagabundo

Não sou herói nem bandido

Nem bunda de fora 

nem calça de veludo.


Sou um sujeito de fino trato

Mas também sei fazer barraco

Liberal ou cabeça dura

Sou o vício da minha cura.




 

domingo, 18 de junho de 2023



                       besta-fera





O mal sempre triunfa. A maldade está em tudo.

No olhar malicioso, o pensamento impuro, o desejo sujo.  

Onde há ignorância, as mentiras e trapaças imperam.


O mundo é cruel, o mal poreja de todas as façanhas.

O engano tange os mesmos sofismas.

O amor é sempre o mesmo, aviltado ou profano.

As virtudes se debatem em secreto desacordo.

Alegria e beleza eludem um tempo de abusões.


O sangue fresco da aurora não nos redime.

A fé consoladora dos aflitos agoniza na preamar

das injustiças.

Sentimos o intangível fender dos ciclos caminhando

para a escuridão.

A língua cansada se recolhe e afunda em seu veneno.

Os que se amam, são os mesmos que se maltratam.


A ferocidade inata do homem alimenta a besta-fera

da discórdia.

Oremos, se é que adianta.






                          sentimentos                   



Presente nas ausências,

meu sentir passeia entre as coisas afetuosas

que pairam sobre a fuligem dos dias.

Vindo de muitas partes, 

cumpre a maldição de não esquecer. 








                            casa desabitada


Teus arroubos e silêncios dizem tudo 

o que preciso saber.

Te entendo quando calas.

Quando tua fúria se transforma em pedra.

E posso ver como és.

Uma parede, um muro, uma casa desabitada. 





quinta-feira, 15 de junho de 2023


                  esse é o problema



Fazer sempre a mesma coisa não tem problema.

O problema é fazer sempre as mesmas coisas.


Fazer sempre a mesma coisa não tem problema.

O problema é fazer sempre as mesmas coisas.


Fazer sempre a mesma coisa não tem problema.

O problema é fazer sempre as mesmas coisas.


Esse é o problema.



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