no limiar do adeus
Sinto o cansaço bater nos ossos.
As coisas plácidas me encantam.
Gosto mais de animais do que de gente.
Família tem o peso do mundo.
De todas as coisas que a vida me imputa,
de ser feliz sou inocente.
Estou mais para indecente.
Híbridos sentimentos me assaltam, depois
que deixei de ser casto.
Novos atores, velhos enredos.
Em tudo há infâmias, segredos.
Vejo meu tempo se esgotando gota a gota,
dei adeus à premência.
Acontece que do nada surge o inesperado.
No limiar do adeus, o que falta realizar já se realizou.
Os deuses não se submetem a barganhas.
Muito menos as Moiras.
O paralém desconhece a sabedoria.
Consta que em Auschwitz não se furava fila.
A verdade de cada um ignora tudo
que não lhe convém.
A coisa mais bem repartida do mundo
é a burrice (apud Murilo Mendes).