quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

                  

                         escambo

Vivemos sob o signo do escambo. 
Do toma-lá-dá-cá escrachado e deslavado. 
Ninguém faz nada sem vislumbrar algo em troca. 
De preferência, em espécie. 





terça-feira, 27 de fevereiro de 2018





                      




O moleque tem fome. 
O indigente tem fome. 
A fome nos rodeia.
Mais da metade da população mundial passa fome. 
Também pudera, com a riqueza do mundo 
concentrada nas mãos de 10% das pessoas. 
Com a grande maioria ganhando menos do mínimo 
necessário para viver com dignidade. 
Vivendo em locais insalubres, 
sem acesso à educação, assistência médica, 
saneamento básico. 
À mercê de governantes, milícias, grupos extremistas 
inescrupulosos e violentos.

Situação que só tende a piorar. 
Com os conflitos que se agravam 
no cíclico recrudescimento da beligerância, 
sob os pretextos de sempre. 
Com as reservas de água potável cada vez mais escassas. 
As mudanças climáticas 
acentuando o processo de degradação ambiental, 
comprometendo as safras agrícolas e a produção de alimentos.
Vírus, bactérias, cepas de doenças desconhecidas 
e letais dizimando pessoas como moscas.

Contexto no qual o aumento da miséria e dos conflitos 
étnico-raciais e hegemônicos 
incrementa ainda mais o êxodo migratório. 
E consequentemente, o drama dos guetos 
e campos de refugiados que envergonham a civilização. 
Que por sua vez, continuará sofrendo com a violência 
e o terror disseminados nos grandes centros urbanos.
Sinistro. 
E quando a peste se espalhar, cobrindo de luto 
o céu da humanidade, saberemos por quem 
os sinos dobram.
Hemingway estava certo.






          

                    
OREMOS !






A vida exige que sejamos fortes
corajosos
Mas às vezes isso não basta
É preciso ser de ferro
Para aguentar o tranco
Suportar o repuxo
Segurar a onda

Como de super-heróis nada temos
A não ser a vontade e a determinação
Há que fazer das tripas coração
E seguir em frente
Pois como diz o outro
O que não nos mata, nos fortalece !

(Afora isso, só para garantir,
 reze dez Ave-marias e dez Pai-Nosso,
segura na mão de Deus, e vai !) 



domingo, 25 de fevereiro de 2018




       CAINDO NA REAL

                            1.

Quando te perguntarem por mim,
me faça um último favor :
diga o que realmente aconteceu.
Ou diga que morri.
Assuma, deixe de subterfúgios
desconversar pra quê ?
Abra o jogo, conte para os outros
o que esconde de mim.
Fala que sou uma fraude
ou qualquer coisa do gênero.
Bote para fora toda bronca e mágoa.
Talvez te faça bem desabafar.
Se é que isso vá fazer alguma diferença.
Se é que essa situação te incomoda,
como incomoda a mim.
Renegado pelo próprio filho.
Sem saber porquê.
Pensando bem, esquece.
Deixa estar.
Um dia a ficha cai.
A minha ou a sua.
Se é que já não seja tarde. 

                                 2.


Já não espero nada de ninguém.
Afeto, amor, tudo acaba.
O tempo é implacável.
Só o que nos resta é manter as aparências.
Cumprir com as obrigações.
Fazer o dever de casa.
Pagar as contas, andar na linha,
dentro das convenções de praxe.
Que consistem em um monte de obrigações,
sem qualquer reconhecimento.
Seja por parte das instituições, dos agentes públicos,
seja por parte das pessoas,
principalmente as mais próximas.
Não espere que te estendam a mão.
Não espere compreensão, boa vontade.
Todo mundo só pensa no próprio umbigo.
Você só terá valor e aceitação
na medida que for útil, que corresponda 
as expectativas alheias.
Por sinal, sempre elevadas.

                                  3.

Não se iluda, não se engane com as aparências,
seu conceito está diretamente
vinculado ao que pode dar e oferecer.
Caia na real, sem drama.
Suprima qualquer expectativa.
Arquive os antigos sentimentos.
E deixe o tempo fazer o resto.
                                




  

sábado, 24 de fevereiro de 2018

    


         O REQUIEM DO APOCALIPSE



É espessa e indistinta a treva 
que de névoa e terror impregna a terra.
Não há trégua nem piedade 
no mundo dos vivos.
Não há mãos dadas na humanidade.
De holocaustos e mortalhas é o seu legado
desde os primórdios.
Em nome de Deus, Alá, ou por esporte,
extermina-se, detonam-se bombas, 
os próprios corpos.

O sangue de inocentes cobre o céu de púrpura,
em meio aos escombros de cidades sírias dizimadas.
À matança indiscriminada que se alastra
nos grandes centros urbanos.
Nos noticiários em tempo real, 
o obituário diário do assassinato de civis indefesos,
nos confins da África, no oriente médio,
cuja vida miserável por si só 
já é um martírio interminável.

Oh, mundo belo e insano, 
que embala sono letárgico dos justos 
ao som do recorrente réquiem de bombas, 
rajadas e tiroteios que não conhece limites e fronteiras.
Sinfonia macabra regida por psicopatas frios e cínicos.
Malucos que proliferam em meio a distopia reinante.
Líderes e chefes de estado
transvestidos de cavalheiros do apocalipse nuclear. 
Discípulos do próprio satã, que se deleitam em promover 
a barbárie nossa de cada dia,
à revelia dos anjos, santos, profetas, 
entidades de todas as crença.
Quiçá, do próprio Cristo redivivo

Divindades entretidas com sei lá o quê,  
onde se escondem ? 
Onde o divino ? 
Onde o anelo de ver desvanecida a treva espessa,
a rotina macabra de defuntas crianças,
dos milhões de trucidados 
nas guerras de extermínio ?

Surdos, cansados, 
provavelmente enfastiados de ouvir as mesmas preces
e promessas, 
os benfeitores da humanidade compactuam
com as mazelas do mundo
Nada diferente do que sempre foi,
sob os auspícios da raça humana.
Excrescência de uma Criação
sabidamente sofisticada,
  O HORROR DOS HORRORES
notoriamente fraticida.







  




sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018




           resignação





A (tua) falta de interesse é notória.
A (minha) falta de vontade, inerente.
A (nossa) falta de atenção, conspícua.

A falta de ficar junto é sintomática.
A falta de aconchego, automática.
A falta de tesão, ah, que falta de sentir falta...

À falta de tudo, capitulamos.
De enganos em enganos
Vamos nos enganando.
Levando a vida,
Deixando a vida nos levar.
Enganando e sendo enganados.
Acomodados e estagnados.
Resignados como gado 
À caminho do abatedouro.





segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018





          O INFERNO É AQUI 
(em quatro atos)


                  1.

Minha noite é insone
Meu dia atribulado
À noite é meu nêmesis 
De dia apenas sigo ordens 
Simples peça da engrenagem
Programado para obedecer
E toca o cliente atender
Que a fila precisa andar
Os rostos se sucedem, contas, carnês
passam pelo meu caixa 
Tudo passa pelo banco
Todo o dinheiro do país, a merreca
dos aposentados
Vai aí um crédito consignado ?

                    2.

Sou lojista, motorista, garçom, pedreiro
Ou qualquer outra coisa 
Mero serviçal que não pensa 
Apenas faço o que me mandam 
De dia me viro nos trinta
à noite rolo na cama 
Isso é vida ? Trabalhar como um condenado
Engolir sapo, humilhação 
Por uma miséria de ordenado ?
Os dias passam e nada acontece
Mas podia ser pior
Quem mandou não estudar ?
                       
                         3.

Estudar, bem que eu quis
Mas faltou escola, faltou dinheiro
Arrimo de família, cedo fui pra rua
Para arrumar qualquer trocado
Como flanelinha, pedinte
trombadinha...
Que vida é essa, meu Deus ?
Na maloca em que moro, com minha mãe
alcoólatra e viciada
Meu pai nem sei quem é 
A noite chega e eu de barriga vazia
Meus irmãozinhos choramingando de fome
Pela frente, mais uma madrugada insone
O inferno não poderia ser pior...
             
                         4.

 Queria ser jogador de futebol
Até tentei, mas na peneira não passei
Fiz letra de funk, mas não rolou
Sem emprego, sem futuro
Só traficando me dei bem
Por quanto tempo, não sei
Provavelmente, muito pouco
Provavelmente, sem final feliz
Mas quem, em sã consciência
Pode me condenar ?




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