domingo, 28 de abril de 2024




Chove. 

Simplesmente chove.

Sem metáforas. 

Fim.





                     apoteoses invertidas


Em nome das desditas cotidianas, o eterno caos 

arma e vela 

a via crúcis dos dias impuros.

Sob o torvelinho mudo da existência pulsam 

chagas e estrelas.

Tudo acontece à revelia das inocências 

perdidas.

Meu palco dos acontecimentos desmonta

as apoteoses invertidas.

Espalho as cinzas dos malogros pelos campos

floridos da juventude.

Ébrio das próprias fantasias.



sábado, 27 de abril de 2024


                            viva, aproveite, celebre



 


 

 Celebre a vida enquanto pode.

Enquanto há tempo. 

                                Enquanto estiver gozando de boa saúde, 

das faculdades mentais.

                               O que por si só já é motivo e tanto para celebrar.

Faça de conta que está tudo bem, mesmo não estando.

                               Seja amigável, não custa nada.

Faça o bem e esteja certo de que a lei da semeadura retribuirá.

                               Não se irrite nem brigue por ninharia.

Ficar quieto também é sinal de sabedoria.

                               Seja paciente, criterioso, nada como um dia após o outro.

Seja bom sem esperar por reconhecimento e retribuição.

                                Sonhe sonhos realistas, não se iluda com promessas

nem espere nada de mão beijada.

                               Tudo que é de valor tem seu preço.

Valorize o que deve ser valorizado e saiba abrir mão

daquilo que lhe faz mal.

                               Entre tristezas e alegrias, tenha sempre essa percepção.

Que é preciso se livrar de crenças vulgares e nocivas.

                              Não se deixar envenenar pelas coisas ruins que acontecem.

Viva, aproveite, celebre, não deixe para viver 

depois que tudo passou.







sexta-feira, 26 de abril de 2024


                          

                           última tentativa





Em tudo jaz em mim gozos baldos.

Desejos rastejam, machucados pela vida.

Meu nada é tudo o que tenho a oferecer.

Onde há muitas diferenças, o coração não dá conta.

E estou cansado de lutar.

Preciso estar sozinho para me encontrar.

O nós em que acreditava vive em pé de guerra.

O que eu adorava em você, numa ameaça ciclotímica 

se tornou.

Você me faz parecer pior do que sou.

O inferno parece mais acolhedor.

Às vezes me pergunto : como saio dessa ?

Sempre em litígio, afundamos em discussões tolas.

Já foi o tempo em que me renovava na tua companhia.

Nós dois já desistimos mas continuamos a tentar.

De briga em briga vamos adiando a última tentativa.

Preciso cair fora, mas não consigo.










quarta-feira, 24 de abril de 2024



                       virar a página


Virar a página.

Libertar-se do jugo

das coisas mal-resolvidas.

Daquilo que fere, machuca.

Da cara metade.

Vade retro, minha cara.




segunda-feira, 22 de abril de 2024



Uma vida inteira de desatinos,

terá sido desperdiçada ?

Afinal, há desatinos e desatinos.

E não troco os meus por nada.

De que vale se fingir de forte

quando é tempo de rescaldo ?

Ver a vida como da janela de um avião

ou do rés do chão. 


Entre sentimentos díspares, 

há que livrar-se do peso da razão.

Deixar-se à deriva.

Viver o derradeiro sonho.

Quiçá o melhor de todos.

Fugazes, insanos momentos.

Na noite calma da minh`alma,

o despertar 

tem sabor de dèjà vu.







sábado, 20 de abril de 2024



Penso, e porque penso, 

vou fundo e grande, desnudando o espírito 

e a matéria, envolto em redes de múltiplos intentos,

mordido, incendiado, em conúbio estreito com brisas

e paisagens, fiel a minhas ideias e princípios,

livre como o vento do mar, às vezes triste, às vezes feliz,

esquecido pelo mundo, em vigílias dolentes,

cantando o passado e o presente, sem mágoa nem desejo,

lutando as lutas mais vãs,

deter o tempo, o fogo dos inimigos, as gargantas

cortadas, o beijo de Judas.



  

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