Chove.
Simplesmente chove.
Sem metáforas.
Fim.
apoteoses invertidas
Em nome das desditas cotidianas, o eterno caos
arma e vela
a via crúcis dos dias impuros.
Sob o torvelinho mudo da existência pulsam
chagas e estrelas.
Tudo acontece à revelia das inocências
perdidas.
Meu palco dos acontecimentos desmonta
as apoteoses invertidas.
Espalho as cinzas dos malogros pelos campos
floridos da juventude.
Ébrio das próprias fantasias.
viva, aproveite, celebre
Enquanto há tempo.
Enquanto estiver gozando de boa saúde,
das faculdades mentais.
O que por si só já é motivo e tanto para celebrar.
Faça de conta que está tudo bem, mesmo não estando.
Seja amigável, não custa nada.
Faça o bem e esteja certo de que a lei da semeadura retribuirá.
Não se irrite nem brigue por ninharia.
Ficar quieto também é sinal de sabedoria.
Seja paciente, criterioso, nada como um dia após o outro.
Seja bom sem esperar por reconhecimento e retribuição.
Sonhe sonhos realistas, não se iluda com promessas
nem espere nada de mão beijada.
Tudo que é de valor tem seu preço.
Valorize o que deve ser valorizado e saiba abrir mão
daquilo que lhe faz mal.
Entre tristezas e alegrias, tenha sempre essa percepção.
Que é preciso se livrar de crenças vulgares e nocivas.
Não se deixar envenenar pelas coisas ruins que acontecem.
Viva, aproveite, celebre, não deixe para viver
depois que tudo passou.
última tentativa
Em tudo jaz em mim gozos baldos.
Desejos rastejam, machucados pela vida.
Meu nada é tudo o que tenho a oferecer.
Onde há muitas diferenças, o coração não dá conta.
E estou cansado de lutar.
Preciso estar sozinho para me encontrar.
O nós em que acreditava vive em pé de guerra.
O que eu adorava em você, numa ameaça ciclotímica
se tornou.
Você me faz parecer pior do que sou.
O inferno parece mais acolhedor.
Às vezes me pergunto : como saio dessa ?
Sempre em litígio, afundamos em discussões tolas.
Já foi o tempo em que me renovava na tua companhia.
Nós dois já desistimos mas continuamos a tentar.
De briga em briga vamos adiando a última tentativa.
Preciso cair fora, mas não consigo.
Uma vida inteira de desatinos,
terá sido desperdiçada ?
Afinal, há desatinos e desatinos.
E não troco os meus por nada.
De que vale se fingir de forte
quando é tempo de rescaldo ?
Ver a vida como da janela de um avião
ou do rés do chão.
Entre sentimentos díspares,
há que livrar-se do peso da razão.
Deixar-se à deriva.
Viver o derradeiro sonho.
Quiçá o melhor de todos.
Fugazes, insanos momentos.
Na noite calma da minh`alma,
o despertar
tem sabor de dèjà vu.
Penso, e porque penso,
vou fundo e grande, desnudando o espírito
e a matéria, envolto em redes de múltiplos intentos,
mordido, incendiado, em conúbio estreito com brisas
e paisagens, fiel a minhas ideias e princípios,
livre como o vento do mar, às vezes triste, às vezes feliz,
esquecido pelo mundo, em vigílias dolentes,
cantando o passado e o presente, sem mágoa nem desejo,
lutando as lutas mais vãs,
deter o tempo, o fogo dos inimigos, as gargantas
cortadas, o beijo de Judas.
não acredite quando digo que te amo Não acredite quand...