domingo, 21 de agosto de 2016

  
           OURO SOFRIDO, COM GOSTO DE PÃO DORMIDO

Nada mais natural e compreensível que a emoção fale mais alto nessas horas. Emoção extravasada em choro, desabafo, abraços, permeados, como não poderia deixa de ser, pelo exagero característico dos grandes eventos, das grandes conquistas. Análises mais frias e realistas nesse clima, obviamente, nem soariam bem, mas há que fazê-las para que o clima de festa não oblitere a realidade. 
Dizer, por exemplo, que a trajetória para ganhar o sonhado ouro nunca foi tão fácil, pois praticamente só pegamos galinhas mortas,e na hora de decidir contra um adversário não mais do que razoável, tivemos que passar pelo drama dos pênaltis para ficar com o título.
Dizer que, emotividade e passionalismo à parte, o time não fez mais do que sua obrigação ao finalmente conquistar o único título que nos faltava ao jogar em casa, com a motivação extra de poder se desforrar da Alemanha, ainda que nem a sombra daquela. E que precisar da loteria dos pênaltis não estava no script.
Dizer também que, sem desmerecer ou deixar de reconhecer a superioridade da equipe no cômputo geral, individualmente, nossos badalados atletas mais uma vez deixaram a desejar. Inclusive Neymar, que a rigor brilhou apenas nas cobranças da falta e do pênalti decisivo. Como, aliás, ficou explícito no choro convulsivo de alívio que mais uma vez tomou conta da rapaziada, e dele em particular.
Dizer ainda...bem, deixa pra lá. O momento é de comemorar e valorizar a conquista, não só pelo ineditismo mas principalmente pelo resgate de nossa massacrada auto-estima, porque de proselitismo barato e arroubos demagógicos já bastam os de nossa trupe de prestidigitadores midiáticos. Que vão da fúria iconoclasta ao desbunde total com a mesma facilidade com que o camaleão muda de cor. 
Com a diferença de que, ao contrário do simpático bichinho, que se limita apenas a observar, nossa histriônica mídia esportiva tem o feio vício de falar mais do que pensar. Daí as frequentes gafes, saia-justas, bolas fora que medalhões como Galvão Bueno e seus adestrados macaquinhos globais costumam protagonizar.Vexames em todo caso, ficam em segundo plano diante do inegável significado da conquista, que mesmo com gosto de pão dormido, quebrou um tabu de mais de um século. E sobretudo, pela afirmação de um nova safra de valores aparentemente apta a formar no time principal. 
O que não poderia ter vindo em momento mais apropriado, com Tite iniciando sua árdua missão de, no mínimo, assegurar nossa presença na copa de 2018, na Rússia. E que não deixa de ser uma obrigação ainda maior.

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