sexta-feira, 16 de setembro de 2016


            O CRUEL ENREDO DA VIDA




 
Normalmente evitada e indesejada, a morte é uma companheira de todas as horas, que mais dia menos dia bate a nossa porta, com ou sem aviso prévio. De surpresa, por encomenda ou decurso de prazo, cumpre com seu papel com a frieza do carrasco que executa seu lúgubre serviço como quem substitui uma lâmpada queimada. A seu favor, diga-se que é extremamente democrática e isenta em seu trabalho, pois não faz nenhum tipo de discriminação. Branco ou preto, rico ou pé rapado, feio ou bonito, famoso ou um rosto perdido na multidão, chegou a hora, não tem conversa, oração, nem choro nem vela. No máximo, uma ou outra concessão, pois às vezes a bola bate na trave, ganha-se uma sobrevida, uma segunda chance ou alguma missão a mais de última hora, para acabar de espiar os pecados ou gastar as últimas fichas na roleta na vida. Vá saber...
A presente reflexão, é claro, vem a propósito da morte trágica do ator Domingos Montagner, no vigor de seus 53 anos, no auge da carreira, e em pleno exercício da profissão, como protagonista da novela Velho Chico, em que fazia o casal romântico com Camila Pitanga. Uma vida ceifada sem qualquer aviso prévio, como disse de início, afogado nas águas do rio de nome amigável, que inspirou a novela e é fonte vital de vida para os nordestinos. 
Rio em cujas águas, ironicamente, chegou a agonizar em capítulos anteriores da novela, alvejado pelo velho desafeto, mas resgatado por índios que operaram o milagre de devolvê-lo à vida e salvar o enredo costurado por Benedito Rui Barbosa.
Rio que de certa forma acabou contrariando a arte, sem direito a final feliz, ao tragá-lo traiçoeiramente enquanto se banhava num trecho sabidamente perigoso, tanto que a colega Camila Pitanga não conseguiu salvá-lo, como os índios na novela. Como isso foi possível, como explicar ou entender uma tragédia dessa natureza ?
E sobretudo, porque cargas d'água os dois se aventuraram a banhar-se num local ermo e de águas visivelmente turbulentas ? Imprevidência que, nesse caso, torna menos imprevisível e ilógica essa vã tentativa de racionalizar as coisas. De entender o cruel enredo da vida.
Que o querido ator faça a travessia para o outro plano em paz. 












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