sábado, 17 de setembro de 2016


                   VINAGRE E O CAVALO ENCILHADO



Vinagre era um sujeito abespinhado e com cara de poucos amigos, assim apelidado devido ao mau humor proveniente da baixa auto-estima e do azedume da mulher, que vivia reclamando de tudo e não perdia a oportunidade de espezinhá-lo. Insatisfeito com o trabalho, infeliz no casamento, Vinagre viu as coisas se complicarem ainda mais por querer compensar as frustrações levando uma padrão de vida acima de suas possibilidades. 
Atormentado por dívidas, quase não dormia com medo de acabar despejado, sem moradia. Quis o destino que num golpe de sorte, surgisse um interessado em seu pequeno negócio, o que lhe proporcionou um bom dinheiro para finalmente dar uma guinada na vida. Seu humor mudou da água para o vinho, bem como o da mulher, e não via a hora de colocar em prática os planos para se tornar independente, senhor de seu destino. Animado, acabou por aceitar o conselho da mulher, que sugeriu a compra de uma vaca, para comercializar o leite e seus derivados.
Sem pestanejar - e raciocinar -,  investiu toda sua grana na melhor vaca leiteira da região. A caminho de casa, viu a praça repleta e extasiada com um show de gaita de fole que fez com que invejasse o sucesso daquele saltimbanco. Não resistiu e ao final da apresentação, propôs trocar a vaca recém adquirida pela gaita que o encantara. Negócio feito, pôs-se a tocar o instrumento na expectativa de encantar a platéia, mas a praça logo se esvaziou diante das ruídos dissonantes que emitia. Esqueceu-se do pequeno detalhe de que simplesmente não sabia tocar o instrumento.
Deprimido, tomou o rumo de casa mas logo o frio intenso enregelou suas mãos, e vendo um transeunte munido de um belo par de luvas, ofereceu-lhe a gaita de fole em troca. 
Sentindo-se melhor, apressou o passo para chegar em casa antes do anoitecer, mas rapidamente se cansou, maldizendo o caminho íngreme. Enquanto descansava, viu passar um andarilho caminhando com a maior desenvoltura, amparado por um cajado que lhe pareceu ser mais útil que o par de luvas que havia acabado de trocar pela gaita de fole. De posse do cajado, mal deu os primeiros passos e ouviu alguém chamá-lo pelo apelido. Levantou os olhos e viu um papagaio encarapitado num galho de árvore.
- Vinagre ! Vinagre ! Que burro você é !
- Porque dizes isso, papagaio insolente -, reagiu, indignado.
- Ora, fostes bafejado pela sorte, tivestes um bom dinheiro nas mãos para encaminhar sua vida, mas gastastes tudo numa vaca, que por sua vez trocaste por um gaita de fole, depois por um par de luvas, e por fim, por um cajado que poderia ter apanhado em qualquer parte da floresta. Que burro ! Que burro !

Vinagre ficou muito bravo com o que ouviu, e tentou atingir o papagaio com o cajado, que acabou ficando preso no alto da árvore.
De mãos abanando, Vinagre até perdeu a pressa de chegar em casa, já imaginando a reação da mulher, que efetivamente quase o espancou e falou coisas bem mais pesadas do que as proferidas pelo papagaio, por ter perdido tudo de maneira tão irresponsável. 

De volta a estaca zero, Vinagre chegou a conclusão de que o único proveito de tão desastrosa experiência seria aprender com os erros e mudar de atitude. E assim fez. Começando por deixar a mulher que lhe atazanava a vida e o tornava infeliz. Aos poucos as coisas foram melhorando e voltou a sorrir, ao lado de uma nova companheira que o compreendia e com quem reaprendeu a viver.    
                           

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De autor desconhecido, a fábula que reescrevo consta no Livro das Virtudes,  a rica antologia de histórias, poemas, ensaios e compilações variadas, que vão da Bíblia aos mais consagrados nomes da literatura mundial, elaborada pelo filósofo e escritor norte-americano William J. Bennett, por mais simplória que possa parecer, encerra verdades pungentes as quais, muitas vezes, pagamos um alto preço para aprender. Por decisões impulsivas e precipitadas, se fechar para o mundo, querer dar o passo maior que as pernas. Passos em falsos que, como nas desventuras de nosso anti-herói Vinagre, podem por tudo a perder, pois nem sempre há uma segunda chance. Nem sempre o cavalo encilhado passa duas vezes. 







    

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