A TURBA
A multidão está insatisfeita,
quer fazer justiça com as próprias mãos.
Por as mãos nos poderosos. A burguesia
que se cuide.
Da minha janela vejo, aflito,
o mundo soçobrando.
Tranco a porta. Escondo o meu ouro.
Que não é muito. Mas dá para o gasto.
A multidão está a minha porta;
nervosa, hostil, me espia feito um
animal à espreita da caça.
A multidão me dá medo, me arrepia.
Fico quieto,
no afã de passar despercebido.
Nem respiro, me encolho para não ficar
à mercê de seus tentáculos de polvo.
O que quer a turba ? Qual o motivo de tanta ira ?
Será a fome que se alastra, a miséria que se
tornou insuportável,
o circo perdeu a graça ?
Ora, não foi sempre assim ?
A multidão ferve, reclama, já não se
contenta com migalhas.
Ouço o seu clamor e perco o sono.
Confiro a tranca, que ruído é esse ?
Serão passos ou minha imaginação ?
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