sexta-feira, 14 de setembro de 2018

                        ASSOVIO DE COBRA







Animal-máquina, animal-planta, ante-sujeito sub-humano
Nascido super-dotado, astuto, ladino, subutilizado
Senhor e servo em semisselvagem atavia
Alma de púcaro, rampance mocho-rapado
Rearruma-se no quebradiço espaçotemporal, reassenta-se na faina ordinária
Quinta-essência de demiurgo psocomorfo
Na rádio-vitrola, a moda de viola sacode a poeira no rodado de Nossa Senhora
Conquanto já não se vê balançar o rabo do balanço-rabo-de-bico-doce
No bambu-bengala ou no bambu-da-China
Na fonte em que o batuque-boi bebe água
Mais um na lista dos quase extintos...
Já nós resistimos, proliferamos feito baratas
Pseudo-sábios, na proto-história que erigimos
Renascendo ciclicamente das cinzas
Destrói, se auto-destrói, e ressurge revigorada
Eis o mistério, eis a sina da humanidade
Da pedra lascada ao megabytes
Mea culpa não cabe
A intracultura de incúria não nos protege
Heróis e tiranos se igualam
Bárbaros colonizadores moldam a História
Da escuridão fez-se a luz, a estrela de Davi ainda cintila
A fúria exterminadora das Cruzadas, dos exércitos de Alá
Se mantém fiéis aos Livros Sagrados
O sangue de inocentes segue jorrando
O ritual insano e lúgubre segue sendo executado
Das mais diversas maneiras
O doença do mundo é incurável
Dize tu, direi eu
Acre e traiçoeira é a vida
O divino verbo nos consola
Doce de pimenta arde mas eu gosto
Dez pés em quadrão é a medida padrão de meu desconsolo
Dores de amores não matam mas torturam
À jusante, à vazante, à minguante vou levando
O cu do mundo eu não conheço
Já o inferno dizem que é aqui
Não sei, nem quero saber
Cossignatário da declaração universal da ignorância humana
Cotípico counívoco covidente covariante catingueira-brava 
Reza e mandinga não me faltam
Conto da carochinha, conto do vigário, cartomantes
médiuns, pais de santo
A mesma conversa fiada
Já cai em todas

Na coirmandade desacredito, posto que ninguém é confiável
Filhos te voltam as costas, amores se diluem em banho-maria
Todos nos traem, de uma forma ou de outra, todos nos traem
Judas fez escola, Brutus nem se fala
Os deuses brincam de cara ou coroa para decidir quem morre
Onde é a desgraça do dia
Um carro-bomba no Iraque
Bombardeios à civis na Síria
Ainda bem que o Afeganistão é longe
Melhor curtir a vida enquanto podemos
Beber e dançar enquanto podemos
Contentar-se com outros prazeres
Fumar um baseado, fazer um ménage à trois
E em não podendo, em não sendo chegado, andar no calçadão
Pescar baiacu na praia, brincar de batalha-naval
Ou outras coisas bobas, coisas tolas
Como tomar um café expresso na padaria 
Ouvir a conversa fiada em volta
Alguém diz que houve 65 mil assassinatos no Brasil 
no ano passado, que estraga-prazeres...

Animal-máquina, animal-flor, animal-apanha-migalhas
Animal-apanha-moscas, animal-apanha-o-bago
Animal-estúpido-animalesco, aperta-chico, aperta-livros
Animal que aperta mãos, animal-ladrão, animal que apunhala animal-que-canta
Animal-que-joga-bola
Animal-que-ama, desama, que sofre de incontinência urinária
Animal-ridículo, que perdeu o senso do ridículo
No ato-show se perde, no auto da fé se redime
Feito assim-assim
Como assovio de cobra, que batiputá-bravo !


  




  



  


     

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