o gosto das coisas
Ah, o gosto das coisas nunca experimentadas,
que gosto terão ?
O beijo nunca dado?
O beijo que nunca mais será dado,
ainda terá o mesmo gosto ?
O abraço do filho ausente
O gozo do amor que se foi
Gosto de desgosto e saudade, até quando ?
Terão as coisas vindouras o mesmo gosto
das coisas que se foram ?
E as coisas que foram, sem nunca terem sido
que gosto terão quando acontecerem ?
O mesmo gosto, o mesmo sabor terão ?
Que gosto terão os amores futuros ?
As dores e dissabores ainda doerão
como um dia doeram ?
Seja como for, nada mais me importa.
O que passou, é passado.
Há vida pela frente e o tempo urge, inclemente.
Que sobrevenha o céu ou o inferno.
Colher a fruta derradeira antes que apodreça.
Que a velhice chegue
e as doenças e a decrepitude tudo roubem.
Levando o gosto de todas as coisas
Vivenciadas ou não.
Assim, quando de tudo eu me tornar ausente
E tudo chegar a seu termo
Possa, sem remorso e rancor,
Saborear o gosto álacre de tudo que vivi.
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