coerência
Não me cobrem coerência.
Não me peçam comedimento, equilíbrio.
Não esperem de mim o que não posso dar.
Sou o que sou.
Incoerente, instável, impulsivo, e outros bichos mais.
Só não finjo. Não disfarço.
Não finjo que não é dor
a dor que deverasmente sinto.
Não me arvoro em dono da verdade.
Sequer dono da minha verdade sou.
Que muda ao sabor dos sentimentos.
Das mágoas, remorsos, desilusões.
Não choro a mocidade perdida, posto que bem vivida,
mas os sonhos abortados,
os amores fracassados.
Feridas que não cicatrizam.
O tempo fluiu sem dor,
até a evasão de tudo que fazia
a vida valer a pena.
Não, não me cobrem coerência,
comedimento,
agora que tudo é apenas um eco,
e o próprio amor se desconhece e maltrata.
Aspirando o fel e a indiferença daquela que tão bem soube
disfarçar o seu desamor.
A rosa do amor despetalou-se, na memória todavia permanece
o que os olhos não viam.
Em meus versos engastados na desrazão
dos sentidos mutilados,
as angústias sofreadas ardem no estridor de coisas novas.
Bem sei que o findar do meu tempo se aproxima.
Maduramente, repenso meus atos,
e um desejo de ser mais do que sou emerge
em meio ao sofrimento seco,
já sem lágrimas e lamentos.
Esgotada a vontade de amar, esgotou-se tudo.
Ironicamente,
nunca estive tão lúcido.
Porque não são mais os sonhos que me guiam.
Soam vãos meus versos epicuristas.
Giram, a tangenciar a razão.
Compreender deixou de importar.
Pois tudo é enganoso nesse mundo confuso.
Da imperfeição da vida,
nasce o ideal de um viver doce e fluído,
em que só o que faz sentido
é o desconhecimento das coisas e de si próprio.
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