terça-feira, 6 de agosto de 2019




               
    porque não acredito em Deus









Não acredito nesse Deus que ensinam para a gente, forjado por espertalhões, manipulado e vendido como panaceia para todos os males que afligem a torturada alma humana. Sem qualquer prova concreta, a não ser a retórica dos charlatões e o intangível ingrediente da fé, transformado no produto mais sofisticado da mente humana, de fato capaz de eventualmente operar milagres. E sem maiores mistérios, pois ao contrário de tudo que envolve Deus ou qualquer outra divindade, seja lá de qual crença e religião, que se baseiam em figuras míticas e imaginárias que ninguém nunca viu, os poderes da mente podem e são facilmente demonstrados e comprovados.

Ah, mas então como se explica o fenômeno da mediunidade, que não obstante a charlatanice que impera, é um dom desenvolvido por alguns ? Como o nosso aclamado Xico Xavier, cuja autenticidade foi largamente examinada e posta à prova, sem que jamais se tivesse comprovado tratar-se de fraude. Ao contrário do que acabou se revelando por parte de outro ícone do espiritismo, o impostor João de Deus, que se valeu da fama para molestar uma infinidade de mulheres e jovens em seus 40 anos de atividade.

Ao que todo mundo se pergunta : ora, se de santo ele nada tinha, de onde vinha seu poder de cura, atestado por milhares de pessoas portadoras das mais diversas enfermidades, originando a fama e a fortuna que amealhou ao longo desse tempo ? Simples. Da mente. Da capacidade de induzir as pessoas a um estado mental que possibilitava a cura. Qual outra explicação ?

O que nos leva a concluir que Deus, esse ser supremo e misericordioso no qual nos ensinaram a acreditar, pouco ou quase nada tem a ver com as curas e milagres atribuídos a esses curandeiros transvestidos de santos. Na verdade, muito mais crível é que, assim como muitas doenças são causadas por estados mentais, por assim dizer, desenergizados, que debilitam o corpo, diversas curas tidas como milagrosas se devem a ativação desses circuitos misteriosos e poderosos, cuja ação já se comprovou em exames de ressonância magnética.
Esses mesmos circuitos poderosos funcionam como uma espécie de antena parabólica em alguns seres especialmente dotados, capazes de se comunicar com outras esferas, ou dimensões, para onde, ao que tudo indica, se transfere a energia que chamamos de alma, ou espírito. Processo que a própria ciência está prestes a comprovar.

Não que um enfoque mais racional e imparcial da coisa descarte a existência de Deus ou de algum tipo de força maior na criação de tudo que aí está. Trata-se apenas de encarar as coisas com isenção e o devido ceticismo. Afinal, elementos para duvidar não faltam, a começar pelas questões mais simples. Onde Deus mora, como ele é, porque nunca mostrou a cara, onde estava antes da criar o universo, e a pergunta que para mim é a mais incômoda : por quê, em meio a uma obra tão majestosa e perfeita, criou algo tão imperfeito e destrutivo como o ser humano ? Um verdadeiro estranho no ninho, que se opõe a seus ensinamentos, e caminha celeremente para destruir o próprio planeta.

Sinceramente, não consigo entender nem aceitar a versão bíblica do pecado original, do desencaminhamento e da redenção humana através do amor e da fé. Muito menos a conversa de que Deus olha por nós, que nos ouve, acode e direciona. É reconfortante e estimulante mas também de uma ingenuidade extrema acreditar nisso, considerando que não passamos literalmente de meros grãos de areia num universo com mais de 1 trilhão de galáxias, zilhões de estrelas e planetas, em tese, tudo a exigir a atenção e os cuidados do Todo-Poderoso. Por mais automatizada que a coisa esteja, dentro do contexto da expansão contínua do chamado Big-Bang, creio que a presença de Deus seja muito mais figurativa e sugerida do que real. 

E como tal funciona. Porque os princípios, os fundamentos, a ideia de um Deus onipresente e onisciente preenchem o nosso vazio e desamparo existencial, e tem sido espertamente explorada desde os primórdios. É como a educação e os ensinamentos que compete a um pai ministrar a seus filhos, que vão servir de referência para a vida inteira. Os filhos se tornam adultos, desbravam seus caminhos, sob a influência do que receberam quando da formação do caráter, na infância e na adolescência. 

Processo em que a noção e a própria imposição da crença e da fé num criador nos é transferida. Sem direito ou interesse de contestação, em sendo muito mais cômodo aceitar a existência de Deus. Não custa nada, e mal não faz, ao contrário : é bom ter a ilusão de que alguém superior nos ouve e protege, e que por mais cagadas que façamos, ainda é capaz de nos perdoar. Bom demais para ser verdade, convenhamos.

Não acredito nesse Deus estereotipado e engalanado, mas num Deus pessoal, oriundo do que somos. De como agimos. Cada um tem o Deus que concebe. Que merece. Presente, indiferente, inexistente. Que se ausenta quando o ódio e o ressentimento dominam o coração. 

















  




  










  




  








  








     

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