terça-feira, 27 de agosto de 2019


             
                  nobre legado








Fecho os olhos e ainda vejo o rio poderoso e turvo.
Matas repletas de pássaros, os arrozais.
Meus dois cachorros, Kalu e Respeito, 
anjos da guarda da minha infância.
O internato aos seis anos, as missas na igreja Luterana.
O imponente morro do Agudo ao fundo.
Bailes na colonia e adjacências, pescarias no Jacuí ,
banhos de arroio, 
os primeiros namoricos. 
E memoráveis férias de fim de ano,
reunindo a numerosa família dos Berger, dos Roos.
Ah, as gaitadas...
Com direito a concursos de peido, o mais fedido e o mais estrondoso...
Ah, sim, a chegada do indefectível Papai Noel - meu primo 
Ernani à caráter, 
a molecada desconfiava mas não tinha certeza.
Luzes apagadas, apenas a enorme árvore natalina 
tremeluzindo, o tannenbaum cantado assim mesmo, 
em alemão.
Enfim, hora dos presentes, não sem cada um
recitar algum verso natalino, o capetinha aqui sapecando 
o infalível "kleine known, grossen known, der weihnachtsmann 
at der arschloch brechen".
Neim, neim, neim, se ria a não mais poder a grossmuther, 
mãe, avó, inesquecível matriarca dos Berger, 
com seus seis filhos, Arnaldo, o mais velho, 
meu pai Engelhart, Bernardo e Orlando, 
as gurias, Onira e Lolita.
Vô Rodolfo não conheci, morreu cedo, aos 56 anos, câncer no estômago.
E havia já então uma numerosa prole de netos, 
hoje em dia, mais de meio século depois, também 
com filhos e seus próprios netos, 
dispersados por esse mundão afora,
com a sagrada missão de honrar 
e perpetuar tão nobre legado.


Igreja Luterana de Agudo.



O imponente morro do Agudo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

                            a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...