quinta-feira, 31 de outubro de 2019





            O MARASMO EXISTENCIAL






Há coisas que duram quase uma eternidade. 
Outras, acabam no nascedouro.
Boas ou ruins, tanto uma como outra
tem data de validade.
Quando muito, algum elo fica.
De resiliência ou conveniência.
No bojo de tudo, o grotesco desfile 
de falsas virtudes.
A hipocrisia como pano de fundo.

A suposição de que o amor a tudo
supera 
é tão falsa quanto a ideia 
de que há valores incorruptíveis. 
Todos tem seu preço, e às vezes esse preço 
é bem menor do que imaginamos.
Como se sabe, o cotidiano é um massacre, 
e o véu que cobre a nudez moral 
não engana ninguém.
O acaso desarticula qualquer esperança
no sentido de consertar as coisas.
O abismo pode ser tanto o habitat
natural em que vivemos,
como entre as pernas de alguém
que desejamos.

O final é sempre o mesmo,
um contínuo retorno ao marasmo existencial.
A liberdade é intrinsecamente trágica.




(Adap. de ensaio de Luís Felipe Pondé)




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