o Deus do desamor
Não sei se a vida é errada ou o errado sou eu, mas estranho que Deus
tenha caprichado tanto no geral e acabasse perdendo à mão no arremate.
Ao criar o Homem, essa aberração que destoa em sua obra-prima.
A menos que tenha sido proposital, por mera diversão, para quebrar a monotonia
que as más línguas dizem imperar no Paraíso.
Não é à toa que o inferno parece bem mais divertido.
Não é à toa que o seu anjo dileto se rebelou, e que o próprio menino Jesus
debandou quando pôde, segundo o relato insuspeito do sublime
"Guardador de Rebanhos", de que Deus está velho, caduco
e pouco se importando conosco, simples mortais.
Ora, de fato, tivesse Ele amor pela humanidade, por que esse sofrimento todo,
essa cruz que carregamos desde o nascer ?
Não faz sentido.
O imperfeito ser humano não se explica, a não ser como um contraponto,
um apêndice, ou o mais provável, um rebanho para ser imolado ou para
louvar-Lhe os feitos.
O que eu sei é que Deus não é bom para quem ama.
Porque nos fez fracos, permissivos, promíscuos, de modo que cedo ou tarde
tudo estragamos.
Estragamos o amor, e ficamos com a dor, doenças, solidão.
Sabe-se lá sob quais critérios, poucos conseguem a graça de uma vida tranquila.
Ou estarei exagerando ?
Que Deus não se envolve, em função do livre-arbítrio ?
Pode ser, mas o diabo se envolve, e como !
Ok, são conjecturas toscas, não sou nenhum guardador de rebanhos
como o grande poeta lusófono, o que penso não importa,
sequer sei onde me encaixo, por que ainda estou vivo,
se em tese já dei o meu melhor, e a essa altura apenas gasto o tempo,
sem qualquer expectativa de dias melhores,
tampouco de amenizar meu fardo, me reabilitar
aos olhos daquela que hoje diz que preferia não ter me conhecido.
Tal o mal que lhe causei.
Eu só sei que Deus não é bom para quem ama.
Mais que no amor, é no desamor que Ele se encontra.
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