sexta-feira, 7 de agosto de 2020


                         um peso, duas medidas





Por motivo algum e motivos vários,

sou a melhor e a pior das criaturas.

A mais digna e a mais vil.

Louvado e execrado. 

Anjo e demônio.

O melhor e o pior filho, pai presente e 

ao mesmo tempo ausente.

Amante fogoso e relapso. 

O outro que existe em mim, afinal,

quem é ?

Sadio e podre,

o certo e o errado, numa só pessoa.

Ou alguém que foi sem nunca ter sido ?


A um só tempo, belo e sujo.

Incrível e sórdido.

Herói e psicopata.

Intenso e promíscuo.

Assim mesmo, aos olhos 

de quem mais me conhece.

Há que se dar crédito...

Meu coração generoso e ardiloso,

mártir e algoz de si mesmo,

em paroxismos se diverte e padece.

Despojado de atrativos, às feras lançado,

julgado e condenado 

sob um peso e duas medidas.


Eis como tenho sido retratado.

A um tempo triunfante e espicaçado.

Demiurgo de antigas fantasias, amado e 

repudiado, fiz de mim um simulacro

do que deveria ter sido.

Dói saber 

que quem mais me difama, 

consta que um dia me amou.












 






  




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