homo cellulare
Assim chafurda a humanidade.
Sem mais nada que surpreenda, escandalize.
O novo normal é o hediondo, o execrável, o escracho.
Ninguém mais teme o enxovalho, a ignomínia.
Quanto mais explícito, melhor.
Por debaixo dos panos perdeu a graça.
A crise de valores e de identidade da modernidade
líquida e confessional assim o exige.
O furor de mostrar-se, exibir-se, a tudo
transcende.
Para o homo cellulare, privacidade é o de menos.
Vale tudo por visibilidade no mundo digital.
As pacatas praças da aldeia substituídas pela
plateia planetária,
que não distingue o cientista famoso
do estuprador,
dá mais importância ao vencedor do BBB do que
ao ganhador do prêmio Nobel da Paz.
O que vale é ser visto e reconhecido no shopping.
Ter milhões de seguidores, curtidores.
As pessoas fazem qualquer coisa para serem vistas ou faladas.
Até mesmo o que até outro dia era vergonhoso,
como a fama de ladrão, corno, ou puta.
Com os parâmetros e critérios tão desvirtuados,
resta saber se é o começo ou
o fim de uma era.
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