quinta-feira, 17 de setembro de 2020




                      homo cellulare





Assim chafurda a humanidade. 

Sem mais nada que surpreenda, escandalize.

O novo normal é o hediondo, o execrável, o escracho.

Ninguém mais teme o enxovalho, a ignomínia.

Quanto mais explícito, melhor.

Por debaixo dos panos perdeu a graça.

A crise de valores e de identidade da modernidade

líquida e confessional assim o exige.

O furor de mostrar-se, exibir-se, a tudo

transcende.


Para o homo cellulare, privacidade é o de menos.

Vale tudo por visibilidade no mundo digital.

As pacatas praças da aldeia substituídas pela

plateia planetária,

que não distingue o cientista famoso

do estuprador,

dá mais importância ao vencedor do BBB do que 

ao ganhador do prêmio Nobel da Paz.

O que vale é ser visto e reconhecido no shopping.

Ter milhões de seguidores, curtidores. 

As pessoas fazem qualquer coisa para serem vistas ou faladas. 

Até mesmo o que até outro dia era vergonhoso,

como a fama de ladrão, corno, ou puta.

Com os parâmetros e critérios tão desvirtuados,

resta saber se é o começo ou 

o fim de uma era.










  



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