domingo, 18 de outubro de 2020


                o remédio


Como diz o velho Bukowski, chega um momento em que a gente fica tão sozinho que tudo começa a fazer sentido. Não no sentido de expiação, castigo, desgraça, embora às vezes assim o pareça. Mas para quem chegou a esse ponto por opção, ou mediante um providencial empurrãozinho do destino, a solidão, estar sozinho, chega a ser uma benção.

Pense nas vantagens de não se chatear à toa, nem chatear ninguém. Não precisar dar satisfações nem justificativas pelas mínimas coisas. Não precisar mentir, disfarçar, esconder, por senha no celular, não se sentir desprezado, usado, excluído, enganado, uma merda.

Pode se distrair sem culpa, fazer o que der na veneta, fazer merda, enfim, ser dono do próprio nariz.

Mas, é claro, tudo na vida é relativo. Devo reconhecer que em meio ao turbilhão em que me vi nesses últimos anos, topei com uma doida que só não me levou a passar por essa via crucis de novo porque ela não quis. Foi mais um inestimável favor que me fez. Não topar uma relação sem futuro, com alguém ainda preso ao passado, a um amor insubstituível. 

Mais um motivo para valorizar essa solidão que é mais uma libertação. Das injunções da vida a dois. O que um dia cansa, satura, bagunça o coreto. Às vezes ao ponto da ruptura. Nem por isso menos sofrida, dolorosa. Quando a chama do amor não se extinguiu, apenas amornou, arrefeceu.

Daí o drama das separações. Até a aceitação de que há males que vem para bem. Que não há uma só coisa perdida que não projete uma sombra, que não ofereça novas oportunidades.

O remédio é tornar as boas lembranças aliadas, ao invés do virtual luto que a separação, o ocaso de um grande amor ocasionam. Quando, na verdade, só o que morreu foi o tédio.


 







 






 









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