livro inacabado
Há pegadas humanas na lua.
Há deuses-alienígenas que explicam todos os
mistérios que não entendemos.
Há auroras boreais que congregam toda beleza
profanada da terra.
Há vestígios de povos desconhecidos que precederam
toda forma de conhecimento.
Há auroras atrozes que perduram como o pêndulo
que o tempo fez parar.
Há jardins de Edens que acalentam a vigília dos proscritos.
Há formas e matizes que lavam os dias
das causas inominadas.
Há ontens que entesouram o incrível.
Há criaturas feitas de ouro e ilusória memória.
Há esperas que não valem a pena.
Há enigmas e silêncios invioláveis.
Há o princípio e o fim de toda epopeia.
Há o desejo de não ter nascido. Não aqui, não agora.
Há a crença em fábulas e magias, e a descrença na palavra
humana.
Há o querer que perdeu a conta de tanta rejeição, e que
de algum modo volta feito onda.
Há o mistério de se reinventar quando tudo parece perdido.
Há sempre quem acenda um fósforo no escuro.
Há uma realidade paralela que só os ascetas conhecem.
Há o esquecimento das dádivas recebidas, mas não dos malfeitos.
Há o saber inútil no abuso da etimologia.
Há simulacros que o tempo concede para urdir breves
formas de felicidade.
Há o bem que devemos louvar e agradecer a cada
instante da vida.
Há o murmúrio do mar e da chuva, que não mudam.
Há as aventuras ínfimas que talvez sejam os fios mais
duráveis da trama da existência.
Há o grato amor ao ingrato amor, que se elidiu
a cada remordimento e cada mágoa.
E há o porvir,
o delicado tempo que tudo modela,
e no qual nossa aventura terrestre se escreve
como um livro inacabado.
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