sexta-feira, 23 de julho de 2021



                            sangrando





Sangremos, pois, ante aqueles que perderam 

os filhos, vivos ou mortos.

Sangremos, pois, ante os mendigos que  encarnam

as misérias da vida.

Sangremos, pois, ante os aleijados, os cegos de nascença,

os suicidas, que herdaram os pecados do mundo.

Sangremos, pois, ante a desgraça dos desterrados, dos

retirantes e exilados, que morrem longe da pátria-mãe.

Sangremos, pois, ante os dias crivados de fatídicos

enigmas.

Sangremos, pois, ante cada sorriso apagado do rosto

de uma criança.

Sangremos, pois, ante os afetos e amores inconclusos,

e por fim, denegados.

Sangremos, pois, ante as coisas inocentes devoradas

pelo tempo.

Sangremos, pois, ante os machucados pela vida, os quais

a justiça não alcança.

Sangremos, pois, ante o luto dos amanheceres que a morte

não resgata.

Sangremos, pois, ante a natureza massacrada, as rupturas

que (se) partem sem partilhas.

Sangremos, pois, ante as fábulas desmanteladas 

pelos torvelinhos do tempo.

Sangremos, sangremos, pois, até o infinito silêncio se

abater sobre o mortal genoma de tudo. 




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