terça-feira, 12 de outubro de 2021



                     

             evoé ! sou uma lâmpada queimada

               



Inútil conjecturar,  martirizar-se à toa.

Tudo está como sempre esteve.

Os cânones existenciais são pétreos.

Os mais fortes prevalecem, canibalizam os mais fracos. 

Há que ter astúcia 

para sobreviver, mesmo os fortes sucumbem.

A normalidade doentia nos agarra pelo pescoço.

Todos tem fraquezas, neuroses, taras.

Eu, por exemplo, gosto de ouvir o coração

para não me sentir sozinho.

Consolo estúpido, porém, eu não sou Endimião.   

Descreio das inapeláveis cosmogonias. 

Em compensação, já não me defendo nem me debato, 

prestes a apagar 

como uma lâmpada que queima ao toque no interruptor. 

Pufff, já era. Acabou.

Uma lâmpada queimada é a metáfora da minha vida.  

Evoé !


Prefiro catálogos à livros. São convenientemente

práticos. 

Palavras muitas vezes repetidas caem no vazio. 

Reducionismo, superficialidade, rebaixamento cultural, 

a era digital é uma farsa.  

Mas bosta enlatada também vende, acredite.

Desconheço as leis da atração.

Eu sou a fome e o alimento do meu canto. 

De tanto ser sozinho, não preciso 

que ninguém me goste. Evoé !


O que eu quero da vida ?

Meu bote está à deriva, onde vai dar só os deuses sabem.

São seis horas da manhã e está tudo como sempre.

Ao menos aparentemente. Ao menos por enquanto.

A vida empacada nas suposições.

Mas de repente, consigo me ver como o mundo me vê. 

Mais um perdedor, é claro, mas tudo bem.

Não tenho mais veleidades. Sinto o mundo se fechando, 

mas é bom sentir essa leveza. 

Não decepciono mais ninguém e ainda quebro

o galho, como um velho candeeiro. Evoé !









 











 

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