domingo, 10 de outubro de 2021


                                                    manhãs





Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.

Do ventre que gesta as coisas mais belas e mais amargas, 

os liames primordiais transcendem os mitos e farsas.

Mitos e farsas que incendeiam os paradigmas.

A vida é o que é, inútil tentar modificá-la. 

Maternidades e cemitérios, igrejas e bordéis : tudo

remonta a mesmo mescla de carnes corrompidas.


Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.

O choque do tempo contra o absurdo e o imutável

acende as luminárias das alegorias insofridas.

Monturos absconsos de ritos e vontades absorvem 

a áspera realidade.

Restos de antigas dignidades subvertidas aos cerimoniais

hereges.

O homem morre sem saber quem é.

Só se encontra na angústia dos proscritos.


Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.

A vida autônoma assiste a barbárie eternizar-se.

Bárbaros matam a fonte em que todos bebem.

Não importa. O ritual dos sacrifícios faz parte da natureza.

Uns devem morrer pelo bem de outros.

O sangue derramado é a aliança com divindades 

de reputação duvidosa. 

Não importa. Nada importa. Nada restitui a inocência perdida.


Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.

Manhãs de reinvenções dos elementos.

Manhãs de súplicas. 

Manhãs estéreis, perfuradas de matizes difusas, 

que por decreto divino velam a própria eternidade. 

Os poderes do mundo rejeitam a pomba branca da paz. 

Libertamos Barrabás e crucificamos Cristo.

Não espere nada menos.











 




 

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