manhãs
Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.
Do ventre que gesta as coisas mais belas e mais amargas,
os liames primordiais transcendem os mitos e farsas.
Mitos e farsas que incendeiam os paradigmas.
A vida é o que é, inútil tentar modificá-la.
Maternidades e cemitérios, igrejas e bordéis : tudo
remonta a mesmo mescla de carnes corrompidas.
Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.
O choque do tempo contra o absurdo e o imutável
acende as luminárias das alegorias insofridas.
Monturos absconsos de ritos e vontades absorvem
a áspera realidade.
Restos de antigas dignidades subvertidas aos cerimoniais
hereges.
O homem morre sem saber quem é.
Só se encontra na angústia dos proscritos.
Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.
A vida autônoma assiste a barbárie eternizar-se.
Bárbaros matam a fonte em que todos bebem.
Não importa. O ritual dos sacrifícios faz parte da natureza.
Uns devem morrer pelo bem de outros.
O sangue derramado é a aliança com divindades
de reputação duvidosa.
Não importa. Nada importa. Nada restitui a inocência perdida.
Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.
Manhãs de reinvenções dos elementos.
Manhãs de súplicas.
Manhãs estéreis, perfuradas de matizes difusas,
que por decreto divino velam a própria eternidade.
Os poderes do mundo rejeitam a pomba branca da paz.
Libertamos Barrabás e crucificamos Cristo.
Não espere nada menos.
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