pelo resto da tua vida
( ou a lei bruta da Natureza)
1.
Aí você põe um filho no mundo.
Sem noção do tamanho da responsabilidade que está assumindo.
Da encrenca em que está se metendo.
Sem fazer ideia das mudanças que estão por vir,
passado aquele instante mágico, único, inigualável,
de ter dado a luz aquele pequeno ser,
saído de suas entranhas,
um pedaço de você.
Um ser que veio para te preencher, mas também
para sugar toda tua energia,
exigir toda a tua atenção,
de modo a tornar todo o resto secundário.
Pelo resto da tua vida.
Inclusive em relação ao distinto progenitor, na verdade
aquele que mais perde, por se ver naturalmente preterido,
relegado a segundo plano.
Tal qual prescrevem as leis brutas da Natureza.
Sim, por filhos no mundo é a coisa mais fácil,
tanto que muitos deles sequer são desejados,
nascem acidentalmente, à contragosto,
sem planejamento, respaldo.
Como esperar que tenham uma vida normal ?
Que sejam normais ?
"Crescei e multiplicai-vos", teria sido a ordem do Criador,
cumprida à risca por uma humanidade
que prolifera feito barata.
Prolifera à revelia.
Prolifera por proliferar.
Criar é que são "elas".
Reunir as condições necessárias.
Como esperar por um mundo melhor
se a grande maioria
nem criar os filhos
direito
consegue ?
2.
Aí você põe um filho no mundo.
E você é daquelas que leva a missão à sério.
Afinal, é a realização de um sonho, lutou para isso,
custou a engravidar, fez tratamento,
como não se empenhar de corpo e alma para que
aquela criaturinha tenha do bom e do melhor ?
Só que não é tão simples assim.
Nem todo amor, empenho, dedicação, é garantia de nada.
Você deveria saber que filho não é para sempre.
Que lá pelas tantas, a bruta lei da natureza fala mais alto.
E seu filhote começa a desgarrar. Já não aceita ordens
passivamente, reage mal às cobranças,
dá sinais de rebeldia, e um belo dia, mal saído dos cueiros,
lasca na sua cara que não vê a hora de sair de casa.
Que é quando você se questiona, onde foi que eu errei ?
Você que tudo fez, negligenciou o próprio marido, companheiro,
viu a relação naufragar, o corpo mudar, até doente ficou,
para, no fim, ouvir daquela criaturinha amada
que seus cuidados já não são necessários, muito menos
indispensáveis, foda, né ?
3.
Aí você põe um filho no mundo.
Não sabe nem quem é o pai. Tentou abortar, mas quando
descobriu já era tarde.
Teve que aceitar na marra. Pensou em dar para adoção,
mas faltou coragem.
Conhece muito bem esse sentimento, de rejeição,
não saber quem são os pais.
E trata de fazer o que lhe está ao alcance.
Algo que dentro das parcas condições que desfruta,
está longe de suprir as necessidades daquela criança.
Daquele adolescente. Que logo vai para a rua,
onde experimenta de tudo,
aprende da pior maneira, para se tornar alguém
que a própria mãe desconhece.
4.
E aí você põe um filho no mundo.
Para saber como é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário