pegar ou largar
ilustração de Rene Magritte
Apesar dos pesares, não descreio do amor.
Desde que preencha certos requisitos, normalmente
ignorados,
mas que após tantos malogros, passam a ser pétreos.
Que haja compatibilidade como muro e caramujo,
pedra e musgo,
calça e suspensório,
cipó e macaco,
cupim e madeira,
a coisa e o coiso.
Que haja intimidade como a corda e o enforcado
a aldrava e a porteira,
o bicho e a goiaba,
o osso e o tutano.
Que o amor saiba ser vital e desimportante,
como as coisas que vivem e apodrecem,
discursos entupidos de silêncios,
palavras que secam ao sol,
repositório de vidros, grampos, urinóis.
Mas não estranhe se ainda assim
o amor mije na sua perna,
defeque na sua cabeça.
Capaz das coisas mais ordinárias.
Em não tendo limites nem fronteiras.
Às vezes belo e gratificante
Outras vezes, seco e oco como junco.
É pegar ou largar, como sempre.
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