terça-feira, 27 de setembro de 2022



Tenho tudo e não tenho nada.

Tudo o que me permite sobreviver dignamente, 

nada do que um dia importou. 

Tive uma vida boa, só fazia o que gostava. 

Hoje faço aquilo que a vida me permite. O que não é pouco, 

diga-se de passagem. 

E sou muito grato por isso.

Tudo que tive e que tenho, se fundem num emaranhado  

que ainda luto para deslindar. 

Às vezes sinfonia, às vezes cacofonia.

Nada mal, em todo caso, para o aprendiz 

relapso que sempre fui.

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Ainda me constrange lembrar de como eu era chucro, 

provinciano, falso moralista, quando cheguei a Santos, prestes

a fazer 20 anos, vindo de uma cidade literalmente fria 

e conservadora como Curitiba.

Levei anos para superar o choque cultural que me levou até

mesmo a abandonar precocemente a carreira (promissora, é o que

diziam ) de futebolista.

Não tive estrutura emocional para me adaptar a um ambiente

que me agredia em muitos aspectos. 

Sobretudo, a falsidade, a discriminação. 

Abandonei a carreira no dia em que um diretor da Portuguesa 

santista (valeu, Ciaglia) mais uma vez descumpriu a promessa 

de me pagar os salários atrasados, alegando que, face a verba

limitada, priorizara aqueles, a seu juízo, mais necessitados. 

"Sua família tem posses, você consegue se virar", lembro dele 

ter dito algo assim.

Impulsivo como sempre fui, cometi a insensatez de desabafar com 

meu então colega de faculdade, Adelto Gonçalves, 

hoje escritor consagrado, e à época repórter do jornal A Tribuna,

que não perdeu a oportunidade de dar o "furo" em que eu anunciava 

o fim de minha carreira e chamava o tal diretor de traidor. 

Lembro que no dia seguinte, logo cedo, meu pai me tirou da cama

aos berros, como raramente vi ao longo de toda nossa convivência,

exigindo que eu me retratasse, pois a merda havia respingado em

sua atividade comercial, já que o então presidente da Portuguesa

era também presidente da Cooperativa Mista de Pesca 

Nipo-Brasileira, o saudoso José Augusto Alves, seu principal cliente.


Fui obrigado a me retratar para não prejudicar meu pai, nem lembro

o que aleguei, mas mantive a decisão de não jogar mais

profissionalmente. Talvez porque logo em seguida, após um breve

estágio, ingressei na carreira jornalística, convidado por meu 

professor na Facos, Ouhydes Fonseca, já falecido,

e que era também editor de esportes do jornal A Tribuna. 










 




 

















 


 

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