prêmio de consolação
Nada é mais do que tenho.
O definitivo não retorna ao antigo instante.
Na hora em que a mente se desdobra em gélidos mosaicos,
só o que fica são pedaços de histórias estúpidas e baças,
enquanto o improvável já vive outras vidas.
Te perco, paixão, nos silêncios porosos que impões
quando te ausentas.
E o querer se torna um jogo que consome
em pequenos sorvos.
Os segredos, à porta, auscultam o denso vário dos desenlaces.
Te perco como um lamento incessante a esbater-se
nos passos em falso.
A procissão dos anos remonta à dores arcanas
e carne depravada.
Te perco quando tua ausência se cobre do musgo dos dias
sem sentido.
E o pulsar das partidas são rastros que somem
sem deixar vestígios.
Nada me recorda as paixões de outrora.
Se maltratado, o amor retrocede a terra entristecida,
em que o despertar forja fantasias recidivas.
Os ciclos se completam no caos disforme dos desgastes.
Ainda não é nascido o sentimento que perdure, conquanto
o coração relute em jogar a toalha.
Te perco porque tudo se perde, como Troia perdeu Helena,
e o amor se dispersa em diásporas irreversíveis.
O tempo é o grande inimigo dos amantes, as palavras inventam
distrações que macetam a dura realidade.
Todavia, a vontade é soberana e não se curva aos infortúnios.
No mundo oco e sem fundo, o peito de chumbo se vira como pode.
Os anseios febris se alongam e ressurgem, como tudo
que é humano.
Cedem à mente e as tentações da carne, como bons devotos
do sacrílego.
O chamado os põem a caminho, imaginação à solta e
a pseudoconsciência devidamente acoimada.
Na falta do amor, o sexo como prêmio consolação.
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