sexta-feira, 7 de abril de 2023



                acalanto do homem só




O que pode um homem esperar

do que ora sorri, ora dá nojo,

alheio ao propósito

da vaporosa vez do possível ?

O fardo tardo decomposto

adivinha faces de morrer.

Noturno e confidente.

Ao som remoto de aleluias eternas.


O que pode um homem saber

das vilipendiadas verdades

em que todas as mentiras se parecem ?

Por ventura, amar, não sabendo a quem amar,

sequer conhecer,

seres loucos e dissimulados,

que nunca falam a mesma linguagem ?

O que pode salvá-lo da flor-mulher-Capitu, 

de olhar oblíquo e dissimulado ?


O que pode um homem que não entende

as sutilezas dos cansaços e gestos filtrados

do grande e incorpóreo nada ? 

Perseguindo e perseguido pelo conhecimento 

que interroga a repartida orbe e maltrata a terra nua.

Sensações sem luz e caridade perseguem o

hermético lábio.

Consumido em clarões em susto, lumes de paixões

que ferem sem sonhar-se.


O que pode um homem fazer, ante o que 

se esconde nas frinchas do tempo ?

Na polpa do ser, mil máscaras se dispersam 

no sujo e esquecido repasto das coisas.

Ignoto, covarde como um desertor, não obstante,

irradiando surda sabedoria,

o que pode um homem só senão apegar-se

ao que não passa.

A morte que o procura.

Ao acalanto do desterro.

O cio, a vida, a poesia como 

fiel companhia. 





 



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