domingo, 4 de junho de 2023


                      a náusea de viver



Em algum lugar há alguém que vai cruzar seu caminho,

e marcá-lo para sempre. Para o bem ou para o mal.


Em algum momento a vida vai partir-se ao meio,

parindo mágoa, morte, dor.


Em algum passo em falso, a sorte vai te abandonar como

um cavalo em pânico.


Nos dias que se abrem e repartem,  há que reaprender 

a liturgia dos símbolos. 

A oferenda da liberdade e do livre-arbítrio.

Contornar as armadilhas da carência.

Aprumar-se ante as vertigens do sexo.


A cada nova situação, um novo enfoque a trabalhar-se.

Adequar-se ao rude ofício, não se intimidar com o uivo

do lobo, o bramido do tigre, que nos espreitam

ao longo da labuta inclemente.


Há sempre muito à aprender.

Às vezes, aprendendo a desaprender.

Abandonar as crenças infundidas.

As virtudes corrompidas.

O amor conspurcado.

Refazer-se da mágoa de existir.

Renascer no esgar dos sentimentos exauridos,

num contemplar-se quase obsceno.

Posto que a vida carece de ser um pouco suja.


Na aventura renovada, refazer-se para ter olhos para ver.

Renunciar às pantominas dos dramas.

Afeiçoar-se àquilo que escalavra e corrói.

Dar outro sentido para o que não tem sentido.

Da pedra colher uma flor dura.

Encontrar-se nas coisas possuídas sem segredos.

Para suscitar outros desejos, a despeito

da náusea de viver.











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