a náusea de viver
Em algum lugar há alguém que vai cruzar seu caminho,
e marcá-lo para sempre. Para o bem ou para o mal.
Em algum momento a vida vai partir-se ao meio,
parindo mágoa, morte, dor.
Em algum passo em falso, a sorte vai te abandonar como
um cavalo em pânico.
Nos dias que se abrem e repartem, há que reaprender
a liturgia dos símbolos.
A oferenda da liberdade e do livre-arbítrio.
Contornar as armadilhas da carência.
Aprumar-se ante as vertigens do sexo.
A cada nova situação, um novo enfoque a trabalhar-se.
Adequar-se ao rude ofício, não se intimidar com o uivo
do lobo, o bramido do tigre, que nos espreitam
ao longo da labuta inclemente.
Há sempre muito à aprender.
Às vezes, aprendendo a desaprender.
Abandonar as crenças infundidas.
As virtudes corrompidas.
O amor conspurcado.
Refazer-se da mágoa de existir.
Renascer no esgar dos sentimentos exauridos,
num contemplar-se quase obsceno.
Posto que a vida carece de ser um pouco suja.
Na aventura renovada, refazer-se para ter olhos para ver.
Renunciar às pantominas dos dramas.
Afeiçoar-se àquilo que escalavra e corrói.
Dar outro sentido para o que não tem sentido.
Da pedra colher uma flor dura.
Encontrar-se nas coisas possuídas sem segredos.
Para suscitar outros desejos, a despeito
da náusea de viver.
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