quarta-feira, 5 de julho de 2023



                     como se não houvesse amanhã



 


Amo-te como uma rosa caída.

Mulher em flor, despetala-se na fenda 

do tempo escorregadio. 

Nutre-se do abandono do tempo que foi, 

que é, e não mais será,

enquanto a primavera orla na janela.


Amo-te, todavia, não obstante as aflições de ontem, 

dos antigos dissabores. 

Amo tua voz de musgo úmido,

o toque aveludado de teu corpo junto ao meu, 

o desejo incontido que regressa de noite 

como um animal ferido.


Tu és a rosa pendida, quase perdida, 

amor recém-nascido nos ritos do presente.

Que me coube aceitar.

Dessa vez, como deve ser.

Como se não houvesse amanhã.




 

 

 

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