o sono eterno
Os ruídos da cidade grande já não me incomodam.
Me incomoda mais o silêncio da madrugada.
Sutilmente ruidoso.
As confabulações dos supremos desconsolos.
O drama das sarjetas insones.
As dúvidas crucificadas.
A banalidade da existência suspensa sobre a vida
tormentosa.
As memórias já retiradas do mundo.
O crepitar das veredas molhadas de orvalho.
O hálito da bruma marítima impregnada de maresia.
As sementes moídas do passar dos anos.
Os recomeços caiados de conflitos incuráveis.
O sangue dos rios afogados entre as correntes do mar.
As lágrimas de tudo que se faz ausente.
As raízes dos caules do sofrimento sem culpa.
As vagas de recifes castigados de puro sacrifício.
As ruas poeirentas dos subúrbios.
O mundo enigmático dos quintais.
Os caminhos esquecidos, as amarguras do espírito,
o pão, o fruto, a paz
que a noite agasalha
no sono eterno.
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