domingo, 22 de outubro de 2023

                                    o canto da sereia 





O que está acontecendo com o mundo ? O que está acontecendo com as pessoas ? A impressão é que uma espécie de loucura coletiva se espalha feito um vírus semelhante ao do Covid 19. O qual, como se sabe, criou o ambiente propício para a conversão maciça da humanidade ao deus ex-machina da era digital, com o isolamento forçado por quase dois anos ampliando a dependência da Internet à níveis altamente deletérios e alarmantes.

Ninguém ignora que tudo hoje em dia gira em função da Internet. Para o bem e para o mal.  Há o lado bom, pelos benefícios e facilidades que proporciona, e há o lado dark, terreno fértil para toda sorte de delitos e arapucas. Orientar-se nessa terra de ninguém é sempre um desafio para o qual poucos estão preparados, livres de seus atrativos ou mesmo de cair em alguma de suas inúmeras armadilhas. 

Seja como for, o fato é que cada vez mais a Internet se firma como um verdadeiro Éden para os espertalhões e vigaristas de toda natureza. Até mesmo para legitimar atividades ilícitas e moralmente recrimináveis. Me incomoda ver o crescimento - e a aceitação - de atividades de fundo e caráter delituoso, claramente voltado a exploração da boa fé e da própria natureza fraca do ser humano, surfando nas ondas da falta de regulamentação desse oceano tão complexo e vital na vida de todo mundo. 

O mais grave e gritante envolvendo a disparada de casas de apostas de todos os gêneros que estão desgraçando a vida de milhares de pessoas atraídas pela promessa de ganho fácil. Um segmento tão lucrativo que permite a algumas dessas casas ostentar suas marcas nas camisas de alguns de nossos grandes clubes, além de pagar comissões milionárias a influenciadores e gurus digitais.

São visíveis e notórios os efeitos desse novo e no mínimo controverso padrão funcional ditado pelo mundo digital, composto por ecossistemas que vão do útil e aceitável, ao delituoso e repugnante. Em comum, além da aceitação compulsória de um sistema global totalmente atrelado à Internet, o irresistível canto da sereia com que incautos em geral são atraídos para os apelos do mundo virtual.

Não há quem, de uma forma ou de outra, não se veja seduzido, cooptado, ou induzido a fazer parte do conjunto de ecossistemas que passaram a nortear nossas vidas. Não há escapatória. A era digital veio para ficar e há que adequar-se. O grande desafio, como sempre, é separar o joio do trigo. O velho mantra de que não há almoço grátis continua valendo. Não há atalhos, as facilidades e perspectivas de lucro fácil hoje oferecidas, não se enganem, também tem seu preço. Implicam quase sempre em enganar alguém, em vender gato por lebre. O velho golpe da pirâmide financeira encontrou na Internet o habitat perfeito.

Como eu ia dizendo, há no mínimo três ecossistemas que gravitam em torno da Internet. O primeiro, e principal, engloba todo o sistema mundial legal e institucionalizado, desde o financeiro ao governamental, e no qual todos cidadãos estão compulsoriamente engajados. Cujo funcionamento, no entanto, está longe de inspirar confiabilidade, sujeito a manipulações de hackers e programações maliciosas. 

O segundo está umbilicalmente ligado ao primeiro, por se propor a ser uma alternativa ao sistema financeiro tradicional, com o uso das chamadas criptomoedas como um meio mais prático e desonerado para transações comerciais em geral. Na prática, porém, é justamente isso que mais compromete o seu emprego, ou seja, a falta de lastro e de regulamentação confiável. O que as tornam um prato cheio para os vigaristas de plantão, como o faraó dos bitcoins e tantos outros casos que pipocam todos os dias, configurando o velho e manjado esquema de pirâmides financeiras.

O terceiro ecossistema é o que mais atrai e envolve as pessoas, sob as mais variadas roupagens, mas sempre e de alguma forma mexendo com  aquilo que o ser humano tem de mais sensível e vulnerável : o imaginário.  Seu funcionamento consiste na exploração massiva das redes sociais, podcast, canais de youtubers, sites, aplicativos e outros meios, devidamente personalizados e apelativos para fins de faturamento. Por apelativos entenda-se o uso de todo e qualquer recurso para obter retorno, audiência, destaque, explorando os mais variados assunto, com ênfase, é claro, em futebol e sexo. 

Chega a dar pena dos personagens do ludopédio diante do massacre diário e ininterrupto das redes sociais e, mais especificamente, da legião de cagadores de regras que passaram a viver disso, alijados da mídia tradicional. Já o mesmo não se pode dizer das prostitutas que expõem suas aventuras sexuais nos inúmero podcast do gênero, em que quanto mais baixarias e bizarrices, melhor. Afinal, é o que dá audiência, e as moçoilas não estão nem aí para o que pensem delas. Com direito a mentoria e tudo mais. 

Mas é nesse mesmo ecossistema que grassa o suprassumo das  enjambrações, na esteira de um pujante modelo de negócios e oportunidades que vem criando um número sem  precedentes de milionários, em pouquíssimo espaço de tempo. A pedra de toque é o chamado marketing digital, seja com o emprego das mais variadas modalidades de comércio eletrônicos como através do filão mais rentável : a venda de cursos e mentorias ministrados por gente que se especializou em tirar proveito das mumunhas e mutretas do mundo virtual.     

Vejo esses gurus que proliferam feito erva daninha nas redes sociais, vendendo e alardeando os supostos benefícios de todo tipo de produtos, e me sinto como um verdadeiro idiota, incompetente, ogro, um peixe fora d´água nesse mar de oportunidades que o mundo digital propicia. Tiro meu chapéu pra eles, sobretudo por provarem na prática que qualquer bosta pode render ou ganhar dinheiro na Internet. Desde que, como tudo na vida, se esforce para tal.

Se da maneira honesta ou não, vai de cada um.



      




    


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