sábado, 1 de março de 2025


                           de grão em grão





O novo tempo se sobrepõe ao abismo de si mesmo.

O homem transcendental consome seu próprio tumor maligno 

em lascivas elocubrações.

O dolce staccato de não ver recompõe-se em escrutínios secretos.

A desordem do lugar de tudo chega aonde não há mais recomeço.

As promessas elevam-se num clamor maior que a esperança.

À reboque das imposturas, o amor cai em desuso.

A cor mortiça das prebendas pende entre a graça 

e a desgraça.

Luz e treva coabitam acordos fraticidas.

O engodo é o pão nosso de cada dia.

Como se dizia antigamente, de grão em grão 

a galinha enche o papo.

Os desejos se exaurem em lentas passagens.

O martírio da vida percorre o sentido das horas,

sob pálpebras de chumbo.

Sem retorno, a felicidade incria sebes novas.

A banalidade da existência deixa-se existir

à beira do colapso.

Fiel a seus próprios malfadados desígnios. 



 


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