"É um endemoniado", diziam sobre aquele rapaz
que não deixava ninguém em paz.
Era, no fundo, inofensivo, incapaz de algum gesto violento,
apenas gostava de infernizar a vida de todo mundo
com brincadeiras de gosto duvidoso.
Estava sempre pregando sustos nos outros, berrava do nada,
fazia careta para as crianças e cara de bravo para os adultos,
às vezes abordava as pessoas para fazer perguntas sem nexo,
em suma, não batia bem da cabeça.Tão lelé da cuca que era
quem mais se divertia com suas diabruras, e ainda mais
da notoriedade que tal comportamento granjeava. Não sei
porque cargas d`água sempre que me via, repetia : "eu vou
te matar, Ivan Berger !".
Passados uns trinta anos, vi-o outro dia, atravessando
a rua, cabisbaixo, já meio curvado pelo peso
da idade, mas ainda assim facilmente reconhecível.
Por um instante, me veio a lembrança a correria da molecada
quando ele se aproximava, e um deles gritava :
- Corre que o Satanás tá chegando !
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