quinta-feira, 1 de maio de 2025


                             metamorfoses





Nada mais difícil do que ver o mundo

pelos olhos dos outros. 

Medir, sentir, sopesar sob o mesmo prisma.

Arguir silêncios e astúcias.

Absorver toda forma de vida como se fosse única,

una, unívoca. 

Entender as razões alheias, por mais absurdas 

e estapafúrdias.

A fim de elaborar um entendimento exato e seco.


Ver o mundo pelos olhos dos outros.

Para entender seus motivos.

Para ser múltiplo e indivisível.  

Abrangente no presente inconcluso.

Complacente no passado impreciso.

Sobranceiro como um corpo de baile.


De dentro, por dentro, as palavras sem ventre

inventam o lusco-fusco da noite,

as bordas dos penhascos,

os cascos surdos

de todas as coisas que habitam a véspera.

Que doce alento o inexistente abriga ?


A transparência dos dias segrega os recessos da vida.

Inoculada de secretas possessões.

O aparato sem sofisticação de acontecimentos inadiáveis

engendra a gênese das palavras.

Tudo se perde e se desfaz na roda-viva da convivência.

Metamorfoses são sempre bem-vindas.

Para que possamos ver o mundo pelos olhos dos outros.



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