Você se torna o porto seguro. Aquele para quem as pessoas correm quando o mundo desaba, o ombro que está sempre disponível, a solução para a crise da madrugada. E você faz, porque se importa. Porque, para você, amar é, acima de tudo, estar ali.
E, aos poucos, você se acostuma a ser um cais de chegada, mas nunca um navio que parte para uma viagem a dois. As pessoas atracam em você, reabastecem a energia, consertam o que está quebrado e, depois, zarpam para o próprio destino, te deixando com a ressaca da partida delas.
Você fica ali, esperando. E, na solidão da sua própria necessidade, quando é você que precisa de um porto, não há ninguém na outra ponta do rádio. O silêncio é a única resposta.
É nesse eco vazio que a verdade mais brutal te encontra, e ela chega sem pedir licença. Aquela pessoa nunca gostou de você. Ela só gostava do jeito que você sempre estava ali por ela e para ela. Era cômodo.
Você não era o amor; era a conveniência. Não era o parceiro; era o serviço de emergência. Seu valor não estava em quem você é, mas na função que você exercia. E essa é uma das dores mais solitárias que existem.
A lição, aqui, não é se tornar amargo. Não é fechar o seu porto para todos os navios. A lição é aprender a identificar os piratas. Aqueles que só querem saquear seus tesouros — sua paz, sua energia, seu tempo — e ir embora, deixando apenas destroços para trás.
Sua capacidade de ser um porto seguro é a sua maior qualidade, não a sua fraqueza. Ela só precisa parar de ser um serviço público e se tornar um clube exclusivo, com uma única vaga de membro vitalício.
E essa vaga, meu amigo, antes de ser de qualquer outra pessoa, precisa ser sua.
* Marcos Adriano
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