segunda-feira, 6 de agosto de 2018

                
       agora que nada mais me prende a nada





Agora que nada mais me prende a nada,
que nada mais me oprime e tolhe,
quero tudo ao mesmo tempo.
Tudo que deixei de viver, de ter.
Tudo que me era sonegado.
Ao viver uma vida que não era minha.
Que era meramente repartida.
Daí a gangorra em que vivia.
Ora contente e resignado como um animal domesticado.
Ora macambuzio, frustrado por me ver  cada vez 
mais isolado e depreciado.

Agora que nada mais me prende a nada,
que nada mais me constrange e condena,
sinto que acordei para a vida para qual
tinha adormecido.
Para os sonhos que pairavam como sonhos inalcançáveis.
E que por serem sonhos, podem ou não se consumar,
e mal algum me fará.

Agora que nada mais me prende a nada,
não me preocupo qual o destino que aguarda
minha nau sem rumo, meu exército de Brancaleone.
Tudo em mim reflui,
me evadindo de todos os cansaços.
Me apartando dos males e fantasmas do passado,
onde o real e o imaginário enfim se conciliam,
para uma nova e ardente realidade 
em que tudo é fervor e claridade.
  










Há uma sutil diferença entre ser bom ou otário. 
O diabo é que vivo me confundindo.




sexta-feira, 3 de agosto de 2018





espelho, espelho meu





no fundo, 
a origem de todos os problemas 
não é a burrice, 
e sim a boa fé. 
Conheço pessoas ignorantes 
que são extremamente espertas, 
e pessoas inteligentes 
que são incrivelmente ingênuas. 
Acabei de ver uma no espelho...



quinta-feira, 2 de agosto de 2018



                          HOJE E ETERNAMENTE






Benditos aqueles que oram quando orar não adianta.
Que protestam e não são ouvidos.
Que cantam em jornadas sem termo, nas entranhas
de um mundo eivado de sordidez e desespero.
Persignemo-nos ante a saga dos exilados e desterrados,
onde todo amor se extingue,
e os herdeiros do reino da morte imperam.


Lenta e inexorável flui a vida em que o grito
dos renegados ecoa em vão.
Em que nossos irmãos experimentam a amarga 
e áspera agonia dos apátridas.
Dos que foram desalojados da casa paterna,
Rumo ao renascimento ou à morte anunciada.
Resguardados na inútil fé e na expiação de eternos infortúnios.
Não, não serei eu o arauto desse mundo podre,
em que o hoje sangra e o amanhã agoniza.
E tudo se resume a nascer, copular e morrer,
como proclama o príncipe dos poetas, em sua 
árida Waste Land.

Não obstante, um mudo entendimento prevalece. 
Rendendo-se a alegre comunhão dos santos.
Deixando-se levar sem culpas nem pecados.
Moldando-se tal qual argila à mão do artista.
Em que o sangue dos inocentes e mártires 
se misturam para saciar a sede do Demônio.
E o Filho do Homem torna a ser crucificado,
hoje e eternamente.




  

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