quinta-feira, 25 de outubro de 2018


                     o prazer de voar




Ser : o quanto nos basta ?
Nunca nos bastamos.

Nunca bastamos.
A possibilidade de viver proclama
sempre, mais e mais : infâmia.

Mesmo vós, que admirei sempre
em minha vida,
no brilho opaco do olhar triste
não vos reconheço.
Quem quer que sejas, de ti me compadeço.
Por não ser o que julguei que fosse.

Ser : apenas isso. 
Apenas viver.
Não se deixar levar, as rédeas tomar.
Procurar, não a ilusória felicidade,
mas a clareza de ideias.
O prazer de voar.




terça-feira, 23 de outubro de 2018

              
               o caminho das pedras





O caminho das pedras é íngreme.
Os percalços nunca acabam.
O destino do homem é o trabalho contínuo.
Quase sempre insuficiente.
Em vão é o esforço para satisfazer 
às expectativas alheias.

O caminho das pedras é sinuoso.
Nem todo conhecimento torna a jornada mais leve.
A sabedoria se perde em situações comezinhas.
Ideais, dignidade, se curvam às necessidades básicas.
Já me disseram : de que adianta tanta leitura,
tanta reflexão, se a sabedoria sempre deixa a desejar ?
Para os que não entendem, para os que tem 
suas próprias verdades, 
as verdades alheias passam ao largo


A discórdia permeia o caminho.
A jornada é árdua, a escalada não tem fim.
O juízo final tarda mas não falha.
Por nossas ações haveremos de prestar contas.
Não no céu, ou no inferno, mas aqui mesmo.
Lento ou sumário, cada qual com seu veredicto,
sob o crivo de deuses cruéis e compassivos.

Que entre enganos e infâmias possamos 
ouvir a voz da razão.
Para que, alheios a crenças infundadas, 
recobremos o caminho do bem.
O caminho das pedras... 





segunda-feira, 22 de outubro de 2018


                 
                 smart ex-machina phone





este pequeno objeto retangular
achatado, espelhado, multicolorido
que nove entre dez pessoas trazem à mão
no bolso, em bolsas, mas sempre à mão
do qual ninguém consegue abrir mão
que põe o mundo à palma da mão
de repente, tomou conta de nós
de repente, nos colocou de joelhos
como objeto numer one de desejo
como a divindade do momento
o Olimpo já não é mais aquele...

os deuses do momento atendem 
por vários nomes
Samsung, Motorola, Apple...
filhos diletos do deus ex machina phone, o Zeus 
que reina sob nossas vidas
que se apossou de nosso tempo
de nossa atenção.

nunca se teve tantos amigos...virtuais
nunca se teve tanta facilidade para tudo
...de certo e de errado
as pessoas mal se olham
as pessoas mal conversam
os casais se distanciam
o diabo está deitando e rolando
pornografia, pedofilia, adultério
nunca estiveram tão em voga.
nunca foi tão fácil pular a cerca, prevaricar.

ah, o deus Smartphone,
que nossas vidas arrebatou.
que de nossas vidas tudo sabe,
em cuja telinha nossas vidas 
incautamente escancaramos.
sob os olhares atentos e gulosos 
dos Grandes Irmãos, Google, Facebook,
Instagram. 







                         
                          that´s my way



Sim, eu me dilacero à toa.
Me emociono à toa, como o doce 
vagabundo Carlitos,
com coisas que outros podem achar 
irrelevantes e até piegas.
Não faz mal, quero ser sempre eu,
independente do que pensem de mim.
Quero ser sempre assim, sentimental, piegas...
Sentir saudades das coisas que tive,
das coisas boas que vivi,
que foram muitas, e que faço questão de guardar 
no coração generoso.

Yes, eu choro à toa.
De saudades me remoo, não só com lembranças
que transbordam em momentos improváveis,
alguma música que marcou
ou um simples guardado,
por acaso achado,
que o tempo amarelou 
mas não apagou da memória.
Choro a dor dos desamparados,
dos injustiçados.
Choro por mim, pelo que perdi.
Lágrimas de gratidão pelo que tenho.

Choro, sim, mas não por fraqueza, pois eu envergo 
mas não quebro.
Sou duro na queda, não sei ser saco de pancada.
Quem me conhece sabe que não levo 
desaforo para casa.
Gostem ou não, não vou mudar.
Ainda que na solidão cave meu caminho.

Como diz o clássico do grande Sinatra,
that´s my way...



domingo, 21 de outubro de 2018


            ARARIBÓIA

Rezam os compêndios que para homenagear o velho herói Araribóia, guerreiro nativo que marcou época nos primitivos tempos da colonização, o governador D. Antonio Salema chamou-o à corte do Rio de Janeiro para suntuoso jantar.
Consta que em dado momento, cansado da posição cerimoniosa
recomendada à ocasião, encarapita-se na cadeira o velho índio,
para estranheza do governador.
Homem rigoroso em questões de etiqueta, ordena através de um serviçal para que ele se recomponha, em respeito ao representante do Rei. 
"Se tu souberas quão cansadas eu tenho as pernas das guerras em que servi a seu rei, não ligaria para esse pequeno descanso.
Mas já que se sentis ofendido, retiro-me para minha humilde aldeia, onde não reparamos para tais formalidades.  E fique descansado que não virei mais à sua corte afrontá-lo", mais ou menos assim teria reagido o velho guerreiro, retirando-se em meio a cerimônia.

É o que a História registra de um brasileiro nato e honrado,
chefe da tribo Temininós, que nos idos de 1575, foi o responsável direto pela expulsão dos franceses da baía da Guanabara, séculos mais tarde saqueada por Sérgio Cabral e companhia.  
Mal sabia da bobagem que estava fazendo...




     
                 os incomodados, fodam-se



Quase nada é do jeito que a gente quer.
Do jeito que a gente pensa.
Do jeito que a gente sonha.
Tudo gira em torno das aparências.
A falsidade é um imperativo.
A hipocrisia, obrigatória.
A mentira, a palavra de ordem.

Não tardamos a descobrir que ser correto
é um tiro no pé.
Que ser justo não vale nada.
Que consciência tranquila não enche a barriga.
No entanto, por formação ou obrigação,
é preciso ser correto, ser justo, fazer a coisa certa.
É uma questão de decência.
O que poucos têm.

Mais fácil é fingir, dissimular.
Se esgueirar pelas sombras.
Falar pelas costas.
Fazer por baixo dos panos.
Eis o padrão dominante.
Engana-se, mente-se, falseia-se com tanta
naturalidade, que tudo 
passa a ser natural.
Viver na mentira.
Enganar a si próprio.
Simplesmente, suprime-se a consciência
E ponto final. 
Os prejudicados, às favas
Os incomodados, fodam-se...



sábado, 20 de outubro de 2018



                              A LEI DA VIDA





Aqui se faz, aqui se paga
É a lei da vida
Nada acontece por acaso
Você que engana, fere, finge ser 
o que não é
Não perde por esperar
Um dia da caça, outro do caçador
Ninguém é melhor do que ninguém
Até ser posto à prova
Até a sorte virar
Até as coisas degringolarem
Isto quando tudo já não foi sempre uma merda

Portanto, não aponte o dedo para ninguém
Não julgue, não condene
Não atire a primeira pedra
Pois amanhã ou depois pode sobrar para você
Não seja a palmatória do mundo
Tendo culpa no cartório
A burrice não releva o passo em falso
A teimosia não justifica a injustiça.
Quem com ferro fere...



Postagem em destaque

                            a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...