domingo, 28 de outubro de 2018

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

                
                             a segunda chance




Sob o espectro difuso da verdade, transigimos.
Bem ou mal, à realidade nua e crua nos adequamos.
Para não capitular, indiferentemente à valores

e princípios.
Valores e princípios nem sempre edificantes,
quando se trata de sobrevivência,
de fazer valer a vontade, os desejos secretos.

Na ordem natural das coisas, a lei do mais forte prevalece.
Sob os mais diversos métodos e artifícios.
Contra a força, a astúcia.
A força do homem, a astúcia da mulher.
Quem a presa, o predador ?
(Ela me disse que, enquanto eu estava indo,
ela já tinha ido e voltado três vezes...
Quantas coisas omitidas, ardilosamente
escamoteadas, aí embutidas ?)
Sutil teia de aranha em que nos enredamos...

Não há inocência na vida adulta.
Na impermanência das coisas, o destino
molda nosso caminho.
O que se ganha aqui, perde-se ali.
Sem rumo, sem prumo frequentemente nos vemos.
No desdobramento do amor, cedo ou tarde
padecemos, quebramos a cara.
Não raro, sucumbimos.
Nada nos redime.
Nada apaga os malfeitos, os danos causados.
Perdão foi feito para pedir, mas os remendos 
nem sempre surtem efeito.
O que está feito, não tem volta.
E quando se tem uma segunda chance, nunca 
é a mesma coisa.

Amor só é amor - e como tal sobrevive -
quando ambos reconhecem que são imperfeitos.
Que todos erram e tem sua parcela de culpa.
É só o que permite juntar os cacos e seguir em frente.
É o que impede que a tal segunda chance 
não seja apenas um mero e triste epílogo.
Por mais bela que tenha sido a história..




  










Acredite quem quiser, 
porque mesmo eu acho 
difícil de acreditar,
mas hoje de manhã,
bem cedinho,
um bentivi pousou na minha 
varanda
e juro que ouvi ele cantar :
vim-ti-ver, vim-ti-ver...


quinta-feira, 25 de outubro de 2018


                                     SER FELIZ






Ser feliz, tarefa inglória.
Talvez por não nos darmos conta
de quão felizes somos
por termos o básico.
Por termos o essencial.
Às vezes nem isso.
Paz de espírito...





                     o prazer de voar




Ser : o quanto nos basta ?
Nunca nos bastamos.

Nunca bastamos.
A possibilidade de viver proclama
sempre, mais e mais : infâmia.

Mesmo vós, que admirei sempre
em minha vida,
no brilho opaco do olhar triste
não vos reconheço.
Quem quer que sejas, de ti me compadeço.
Por não ser o que julguei que fosse.

Ser : apenas isso. 
Apenas viver.
Não se deixar levar, as rédeas tomar.
Procurar, não a ilusória felicidade,
mas a clareza de ideias.
O prazer de voar.




terça-feira, 23 de outubro de 2018

              
               o caminho das pedras





O caminho das pedras é íngreme.
Os percalços nunca acabam.
O destino do homem é o trabalho contínuo.
Quase sempre insuficiente.
Em vão é o esforço para satisfazer 
às expectativas alheias.

O caminho das pedras é sinuoso.
Nem todo conhecimento torna a jornada mais leve.
A sabedoria se perde em situações comezinhas.
Ideais, dignidade, se curvam às necessidades básicas.
Já me disseram : de que adianta tanta leitura,
tanta reflexão, se a sabedoria sempre deixa a desejar ?
Para os que não entendem, para os que tem 
suas próprias verdades, 
as verdades alheias passam ao largo


A discórdia permeia o caminho.
A jornada é árdua, a escalada não tem fim.
O juízo final tarda mas não falha.
Por nossas ações haveremos de prestar contas.
Não no céu, ou no inferno, mas aqui mesmo.
Lento ou sumário, cada qual com seu veredicto,
sob o crivo de deuses cruéis e compassivos.

Que entre enganos e infâmias possamos 
ouvir a voz da razão.
Para que, alheios a crenças infundadas, 
recobremos o caminho do bem.
O caminho das pedras... 





segunda-feira, 22 de outubro de 2018


                 
                 smart ex-machina phone





este pequeno objeto retangular
achatado, espelhado, multicolorido
que nove entre dez pessoas trazem à mão
no bolso, em bolsas, mas sempre à mão
do qual ninguém consegue abrir mão
que põe o mundo à palma da mão
de repente, tomou conta de nós
de repente, nos colocou de joelhos
como objeto numer one de desejo
como a divindade do momento
o Olimpo já não é mais aquele...

os deuses do momento atendem 
por vários nomes
Samsung, Motorola, Apple...
filhos diletos do deus ex machina phone, o Zeus 
que reina sob nossas vidas
que se apossou de nosso tempo
de nossa atenção.

nunca se teve tantos amigos...virtuais
nunca se teve tanta facilidade para tudo
...de certo e de errado
as pessoas mal se olham
as pessoas mal conversam
os casais se distanciam
o diabo está deitando e rolando
pornografia, pedofilia, adultério
nunca estiveram tão em voga.
nunca foi tão fácil pular a cerca, prevaricar.

ah, o deus Smartphone,
que nossas vidas arrebatou.
que de nossas vidas tudo sabe,
em cuja telinha nossas vidas 
incautamente escancaramos.
sob os olhares atentos e gulosos 
dos Grandes Irmãos, Google, Facebook,
Instagram. 





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