domingo, 10 de fevereiro de 2019


              

                 lágrimas de crocodilo

              

O povo geme, chora lágrimas de chumbo,
vertidas na falta de tudo :  infraestrutura sucateada, 
segurança, saúde, educação em segundo plano. 
Entram governantes, saem governantes, 
                  e o marasmo continua. 
As carências são muitas, o dinheiro nunca chega.
Some nos ralos da incompetência, da roubalheira endêmica.
Não era este o país do futuro ?
O povo sofre em tragédias que se repetem,
assassinatos, balas perdidas, no flagelo das drogas, 
no terror instalado no formigueiro humano 
                  dos morros e favelas.
Emblemática Cidade Maravilhosa, dizimada por Cabral e sua gangue.
Que apodreçam na cadeia !
Não diziam que Deus é brasileiro ?
Por que então tantas tragédias ? Mata-se aqui mais do que 
em todas as guerras do mundo.
Morre-se de tudo que é jeito, quantas mais
Marianas e Brumadinhos teremos ?
Quantos meninos com seus sonhos incinerados em arapucas
como essa do Ninho do Urubu flamenguista ? 
Não há fé que aguente tanta desgraça. 
Todavia, é preciso seguir em frente como se nada 
tivesse acontecido.
Indignação, indignação, de que adianta ?
Desabafar nas redes sociais, chorar lágrimas de crocodilo,
e estamos conversados. 
Tudo na conta de Deus, nas costas de outrem, 
na omissão e alienação inocentados, 
enquanto a esperança afunda no lixo e na merda.
Deus deserdou a humanidade ou foi pela
humanidade abandonado ? 






sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019


                                 breve enleio







A juventude que me foi tão grata,
de sóis ardentes trespassada,
agora que os lenitivos se tornam necessários,
                           parece-me ainda mais distante e mágica.

Como quem foi alto demais, súbito a queda vertiginosa,
à exigir uma vã nobreza de meu espírito humilhado.
No ocaso dos sentimentos, se aprofunda o fascinante abismo, 
no qual o amor malsão acena, gracioso e sepulcral. 
Na revelação brutal de cada dia, à míngua de qualquer 
outra razão para viver, traço meu caminho
                      para além da esperança e do desespero. 
Agora que a vida perfeita se perdeu, e a vida sonhada 
se gastou, 
contenta-se o perdido coração com qualquer migalha.  
Como a oferenda que mata a fome do esfaimado.
              








  

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019



                razões


Há razões para tudo.
Para tudo há razões.
Que não sejam as razões do coração.
Cujas razões a própria razão desconhece.




                         
                consciente e liberto  




Tenho a alma leve e um buraco no peito.
A paz que tanto ansiava me sufoca.
Nada mais me pesa, a não ser o que perdi : tudo.
Nada mais me oprime, além do que sempre me oprimiu.
Sofri, penei, culpas expiei,
eis-me, enfim, consciente e liberto,
para viver a realidade de um abismo infinito.

Não busco para meu coração pousada.
Não tardarei em mergulhar nas trevas frias,
e nem o tanto que amei me salvará.
Perdi minha alma quando te conheci, mulher,
que toda as culpas me imputa.
Que todos os males me atribui.
Se isto te compraz, que assim seja !
Minha'alma perdida há muito tempo está.
Por mim e por ti, se for para te salvar.

    

                
               DIGA-ME, POR CARIDADE
                        
E a pensar que foi tudo em vão,
tudo ilusão, a enganar o tolo coração.
Que aos poucos tudo se desfez
Um castigo pelo mal que se fez.


E a pensar como foi tudo tão lindo,
tão intenso, ao menos no começo.
Tu, feiticeira que me arrebatou do limbo
Que agora já nem sei se conheço.

Tamanha é a decepção, tamanho é o pesar,
por ver tudo desabar, tudo aviltado.
Como se nada tivesse representado.

Diga-me, por caridade, a razão de tamanha mudança.
Terei sido eu o único culpado ?
Não teríamos ambos trapaceado ?


   



terça-feira, 5 de fevereiro de 2019








                           

                        O ELO PERDIDO


Na falta de sentir, as verdades ocultas,
as certezas extintas, enfim afloram.
Nas fúteis libações e ações irresponsáveis, 
o jugo interminável dos sonhos nunca consumados.     
No conformismo e no desencanto, 
o elo perdido do que foi sem nunca ter sido.
Da vida que deveria ter sido.
De menos impostura, mais verdade.
Mais entrega, menos orgulho. 
Mais plenitude, menos platitude.
Menos promessas, mais atitude.  
Para o enfermo amor resgatar.
Ou deixar voar.
Como uma pluma no dorso da mão.



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