domingo, 10 de fevereiro de 2019

                     


              NO DIA DE SÃO NUNCA


Há que acreditar
Há que confiar
Há que ter fé
Há que perseverar
Mas como, meu Deus ?
Se nada acontece
Notícias boas não chegam
O dinheiro não entra
É só rasteira e bola nas costas
Puta que o pariu !
Não há cu que aguente
Só mesmo sendo crente
E olhe lá
Porque um dia a ficha cai
Ninguém é otário para sempre

Ó, Pai, se todo conhecimento nos aproxima
da ignorância
de que vale a vida que perdemos com a sabedoria ?
À espera do que nunca chega, sem pensar 
na colheita, apenas semear, semear, 
até que as boas obras enfim prevalecem. 
No dia de São Nunca ?







                    


                            desajustados




Ingrid é o nome dela.
O mesmo nome da minha irmãzinha querida
que Deus levou.
Veio quando eu mais precisava.
Foi e voltou várias vezes.
Sei muito bem o que ela quer de mim.
Sei muito bem o que quero dela.
Mas nunca é suficiente. Para ambos.
Ela sempre querendo mais e mais.
Eu sempre querendo mais e mais.
Muito louca, ela.
Muito doido, eu.
Formamos um belo par de desajustados.
Sem nenhum futuro, é claro.
Ela querendo mais do que eu posso dar.
Eu querendo mais do que ela pode dar.
E assim vamos, aos trancos e barrancos,
cada dia uma incógnita.
Ela com suas intermináveis contas para pagar.
Eu com minha brutal carência para lidar.
Dois casos perdidos, do amor desiludidos,
em busca de alívio.
Como o sopro do vento na relva seca.












 








              

                 lágrimas de crocodilo

              

O povo geme, chora lágrimas de chumbo,
vertidas na falta de tudo :  infraestrutura sucateada, 
segurança, saúde, educação em segundo plano. 
Entram governantes, saem governantes, 
                  e o marasmo continua. 
As carências são muitas, o dinheiro nunca chega.
Some nos ralos da incompetência, da roubalheira endêmica.
Não era este o país do futuro ?
O povo sofre em tragédias que se repetem,
assassinatos, balas perdidas, no flagelo das drogas, 
no terror instalado no formigueiro humano 
                  dos morros e favelas.
Emblemática Cidade Maravilhosa, dizimada por Cabral e sua gangue.
Que apodreçam na cadeia !
Não diziam que Deus é brasileiro ?
Por que então tantas tragédias ? Mata-se aqui mais do que 
em todas as guerras do mundo.
Morre-se de tudo que é jeito, quantas mais
Marianas e Brumadinhos teremos ?
Quantos meninos com seus sonhos incinerados em arapucas
como essa do Ninho do Urubu flamenguista ? 
Não há fé que aguente tanta desgraça. 
Todavia, é preciso seguir em frente como se nada 
tivesse acontecido.
Indignação, indignação, de que adianta ?
Desabafar nas redes sociais, chorar lágrimas de crocodilo,
e estamos conversados. 
Tudo na conta de Deus, nas costas de outrem, 
na omissão e alienação inocentados, 
enquanto a esperança afunda no lixo e na merda.
Deus deserdou a humanidade ou foi pela
humanidade abandonado ? 






sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019


                                 breve enleio







A juventude que me foi tão grata,
de sóis ardentes trespassada,
agora que os lenitivos se tornam necessários,
                           parece-me ainda mais distante e mágica.

Como quem foi alto demais, súbito a queda vertiginosa,
à exigir uma vã nobreza de meu espírito humilhado.
No ocaso dos sentimentos, se aprofunda o fascinante abismo, 
no qual o amor malsão acena, gracioso e sepulcral. 
Na revelação brutal de cada dia, à míngua de qualquer 
outra razão para viver, traço meu caminho
                      para além da esperança e do desespero. 
Agora que a vida perfeita se perdeu, e a vida sonhada 
se gastou, 
contenta-se o perdido coração com qualquer migalha.  
Como a oferenda que mata a fome do esfaimado.
              








  

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019



                razões


Há razões para tudo.
Para tudo há razões.
Que não sejam as razões do coração.
Cujas razões a própria razão desconhece.


Postagem em destaque

                            a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...