quarta-feira, 24 de abril de 2019
obsoletos
Obsoletos, ao longe se divisa.
Prostrados, amargurados,
Carregam o peso do mundo.
O próprio fardo.
Dever, senso de responsabilidade.
Da vida nada mais almejam.
Nada além das pequenas compensações,
Um remanso ao final da tarde,
Jogar conversa fora com os poucos amigos.
Já amaram, sonharam, tiveram posses,
No entanto, tudo perderam, desperdiçaram.
Fracassaram onde não podiam.
Viram o flagelo chegar e se aquietaram.
Viram as marchas fúnebres
E aos sortilégios e fraquezas mundanas sucumbiram.
E aos poucos, ou de repente, tudo se foi.
No decorrer de sua vigília de proscritos
Envelheceram, imprestáveis se tornaram.
Um peso para a família, um peso para a Previdência Social.
Em esquemas consuetudinários vivendo,
O maganão santo se torna.
"O homem é reconhecido por suas ações",
É o que se diz, porém, com ressalvas.
Quando as palavras valem mais que as ações,
Os embustes e logros passam batido.
Qual a coisa que, bem urdida, não mente ?
Homens de ação, meros figurantes,
Inocentes úteis que povoam a terra.
Homens obsoletos,
Incompreendidos,
Desvalorizados em sua modorrenta serventia,
Vivem a vida dos outros.
terça-feira, 23 de abril de 2019
Id
vago de acalanto
Certamente não haverá nada de perfeito
a ser lembrado.
Nada que não seja dispensável, depois de exaurido.
Porque já não te amo.
Porque já não me amas.
Um caminho deserto entre duas tumbas
é tudo que restou.
Exânime, vago de acalanto, o coração já nada espera.
Aquela que parte, aviltada.
Aquela que chega, corrompida.
Deusa intemerata,
um brinde à sua formosura.
Descrente de tudo,
de ti me embriaguei.
E depois te vomitei.
Porque já não me amas.
Um caminho deserto entre duas tumbas
é tudo que restou.
Exânime, vago de acalanto, o coração já nada espera.
Aquela que parte, aviltada.
Aquela que chega, corrompida.
Deusa intemerata,
um brinde à sua formosura.
Descrente de tudo,
de ti me embriaguei.
E depois te vomitei.
segunda-feira, 22 de abril de 2019
Aconteceu. Eis que o azul se tornou negro
debaixo de nossos olhos, de improviso,
sem que percebêssemos.
É o fim. E o fim é fulmíneo.
Adeus, adeus. Não era nada de especial,
não era um dia extraordinário, não era sequer
especialmente luminoso
ou especialmente escuro.
Nem muito bom, nem muito ruim;
não era um dia histórico, nem um dia
para se recordar.
Era um dia como qualquer outro,
nem triste, nem alegre;nem bonito, nem feio.
Quase um dia inútil.
Mas não havemos de vê-lo nunca mais.
Como qualquer outro dia memorável ou não.
* Adaptado do ensaio "Entre a mentira e a ironia",
de Umberto Eco (1932-2016).
domingo, 21 de abril de 2019
O PARDALZINHO
Havia um pardalzinho na minha antiga casa,
que meu filho achou na sarjeta.
Recém-nascido, desmilinguido,
foi um milagre ter sobrevivido.
Ficava na área de serviço,
não tivemos coragem de colocá-lo numa gaiola,
em que só ficava para dormir.
Era meu companheirinho de todas as horas.
Me fazia companhia no café da manhã, logo cedo.
Quando eu estava na sala, lá vinha ele,
pousava no meu ombro, ou no joelho.
Às vezes bicava meu dedão do pé, para chamar
a atenção.
Que saudades dele !
Às vezes penso que aquele pardalzinho
era quem mais me amava
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