quarta-feira, 28 de agosto de 2019
LIDA
Às vezes é preciso
O bicho pegar
A cobra fumar
O pau quebrar
A batata assar
A cuíca roncar
A casa cair
O caldo entornar
O laço apertar
O cu da cotia assoviar
A onça beber água
A canoa virar
A porca torcer o rabo
A vaca tossir
A rosca espanar
Ladeira abaixo despencar.
E se isso ainda não bastar
Para cair na real
Tomar tenência
Criar juízo
Melhor mesmo se internar
Ou meter uma bala na cabeça
Que assim tudo de resolve
Não se amofina.
Nem os outros aporrinha.
terça-feira, 27 de agosto de 2019
nobre legado
Fecho os olhos e ainda vejo o rio poderoso e turvo.
Matas repletas de pássaros, os arrozais.
Meus dois cachorros, Kalu e Respeito,
anjos da guarda da minha infância.
O internato aos seis anos, as missas na igreja Luterana.
O imponente morro do Agudo ao fundo.
Bailes na colonia e adjacências, pescarias no Jacuí ,
banhos de arroio,
os primeiros namoricos.
E memoráveis férias de fim de ano,
reunindo a numerosa família dos Berger, dos Roos.
Ah, as gaitadas...
Com direito a concursos de peido, o mais fedido e o mais estrondoso...
Ah, sim, a chegada do indefectível Papai Noel - meu primo
Ernani à caráter,
a molecada desconfiava mas não tinha certeza.
Luzes apagadas, apenas a enorme árvore natalina
tremeluzindo, o tannenbaum cantado assim mesmo,
em alemão.
Enfim, hora dos presentes, não sem cada um
recitar algum verso natalino, o capetinha aqui sapecando
a molecada desconfiava mas não tinha certeza.
Luzes apagadas, apenas a enorme árvore natalina
tremeluzindo, o tannenbaum cantado assim mesmo,
em alemão.
Enfim, hora dos presentes, não sem cada um
recitar algum verso natalino, o capetinha aqui sapecando
o infalível "kleine known, grossen known, der weihnachtsmann
at der arschloch brechen".
Neim, neim, neim, se ria a não mais poder a grossmuther,
mãe, avó, inesquecível matriarca dos Berger,
com seus seis filhos, Arnaldo, o mais velho,
meu pai Engelhart, Bernardo e Orlando,
as gurias, Onira e Lolita.
Vô Rodolfo não conheci, morreu cedo, aos 56 anos, câncer no estômago.
E havia já então uma numerosa prole de netos,
hoje em dia, mais de meio século depois, também
as gurias, Onira e Lolita.
Vô Rodolfo não conheci, morreu cedo, aos 56 anos, câncer no estômago.
E havia já então uma numerosa prole de netos,
hoje em dia, mais de meio século depois, também
com filhos e seus próprios netos,
dispersados por esse mundão afora,
com a sagrada missão de honrar
dispersados por esse mundão afora,
com a sagrada missão de honrar
domingo, 25 de agosto de 2019
ARGUMENTOS
Há pessoas com quem não se consegue argumentar.
Não por falta de argumentos, mas por não haver
nada que as convençam.
Mentes empedernidas, caso perdido.
Pior que a falta de argumentos é o proselitismo barato.
Não há melhor argumento do que a verdade. Ainda que eventualmente ela não prevaleça.
Não há argumento capaz de dissuadir
Pior que a falta de argumentos é o proselitismo barato.
Não há melhor argumento do que a verdade. Ainda que eventualmente ela não prevaleça.
Não há argumento capaz de dissuadir
quem não tem argumento.
A ignorância é surda à argumentos.
Às vezes, o melhor argumento é calar.
Quando nenhum argumento convence, das duas,
Às vezes, o melhor argumento é calar.
Quando nenhum argumento convence, das duas,
uma : ou o argumento é fraco ou voto vencido.
Às vezes, uma única palavra põe tudo a perder.
Às vezes, uma única palavra põe tudo a perder.
(Mário Quintana)
ANOS DOURADOS
Ah, que saudade de quando tudo parecia
simples e descomplicado.
Tempo generoso de descobertas e ternuras,
em que a vida lentamente fluía.
Na doce irresponsabilidade dos anos dourados.
em que a vida lentamente fluía.
Na doce irresponsabilidade dos anos dourados.
Lembranças pungentes,
que embalam a melancolia do presente.
De quem vê tudo ausentar-se.
Os sonhos que sonhei.
As paixões febris.
As certezas pueris,
batendo asas como um colibri.
Um manto de veludo cobre a noite antiga,
como uma velha cantiga.
A lua chega de mansinho, como que procurando
um ninho.
As estrelas parecem derreter, confabulando
com o infinito.
O espaço abriga os ossos da eternidade.
O que ficou para trás repousa na memória,
contrastando com o duro presente.
O resto é luz, transformada em travesseiro
de sonhos.
Dos anos dourados.
PEIXE FORA D´ÁGUA
A vida nos faz ser como somos
ou já nascemos predestinados,
geneticamente programados para o quê
viermos a ser ?
Vai da sorte, do destino de cada um,
deliberar a cota de prazeres e dores
de ser o que se é ?
Ninguém sabe.
Apenas especulamos.
De concreto mesmo, só a irredimível certeza
de que do ser humano, tudo se pode esperar.
É dentro desse espectro que tudo acontece.
Por maior e mais íntima que seja a convivência,
estamos sempre sujeitos à surpresas e revelações.
Coisas aleatórias, inesperadas.
Mentiras, golpes, traições, tudo passa pelo
aniquilamento gradual e sistemático da virtude.
Tudo que nos é ensinado de bom e virtuoso vai sendo
aos poucos desencorajado e desmantelado vida afora.
Integridade de princípios, senso de justiça, confiança,
cada vez mais anacrônicos frente à escalada brutal
da inversão de valores,
ensejada pela modernidade líquida e frívola reinante.
Marca registrada da era digital, em que a busca por conforto,
prazer, poder, paira acima de tudo.
Uma época em que eu,
positivamente,
me sinto como um peixe fora d água.
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