quarta-feira, 2 de outubro de 2019


                   viver ou vegetar





Quem lê os rabiscos que escrevo pode achar que sou um sujeito amargurado, desiludido, descrente de tudo na vida.
Das pessoas, das relações.
De certa forma, sim.
Descrente das pessoas, dos sentimentos, como qualquer 
ser humano que já tenha sido espezinhado pela vida.

Políticos, publicitários, pastores, gerentes de banco, 
vendedores, amores de ocasião, 
todos batedores de carteira, rindo da sua cara de otário.
Foda-se toda essa gente. 
Foda-se todo mundo.
Chega disso. 
Se tiver que continuar escravo desse circulo vicioso, 
que seja consciente. Sabendo do quê se trata.
Caia mas levante.
Tropece mas ande com as próprias pernas.
Sem precisar de fingidas afeições.
Deixe de se preocupar com coisas que não pode resolver.
Com gente ingrata, que só lembra de você quando precisa.
Pessoas com quem convive, e te voltam às costas.
Te descartam, como se fosse lixo.

Passei a vida me questionando, me cobrando para estar 
à altura das expectativas alheias
Sobretudo, de meus entes queridos.
Nunca consegui. Meus defeitos sempre estiveram
num patamar mais alto.
Até as rupturas. Inúmeras. Traumáticas, mas de alguma
forma, benignas, verdadeiros marcos em minha vida. 
Nada, é claro, comparável ao festival de horrores 
que vemos todos os dias nos noticiários.
Dramas de uma realidade imutável, diante dos quais
estes escritos não passam de meros resmungos.

Não os levem à sério, portanto. 
A não ser para entender, como eu hoje percebo claramente,
que em meio as dificuldades e desgraças, há compensações.
Há que descobri-las. Garimpar a pedra bruta.
Comer o pão que o diabo amassou. 
Aprender os truques por conta própria.
Não porque alguém ensinou. Não deixar simplesmente
na mão de Deus, e não fazer porra nenhuma para mudar.

Desaprenda de um monte de bobagens acumulados 
ao longo da vida, e trate de esquecer, esquecer, esquecer, 
esquecer o quê, quem nos o faz sofrer.

Ok, eu bem sei, é difícil, se não der para esquecer,
tudo bem, lembre, mas sem sofrer.
É burrice ficar se remoendo, sofrer por aquilo que ficou para trás.
Pense nisso, mas se também não quiser pensar,
não esquenta, foda-se você também, 
esqueça esse besteirol. 
Afinal, trata-se apenas de viver ou vegetar. 










  




  




















  
















terça-feira, 1 de outubro de 2019



      entre o que achamos 
      e o que é






Ninguém é legal.
Você não é legal.
Comece por aí, antes de julgar os outros.
Pode até achar que é, na maior sinceridade,
dentro de seus padrões pessoais.
Só que eles não batem necessariamente 
com o que os outros acham.
Dificilmente batem. 
Faça o que você fizer.
Aquilo que para você é justo, correto,
para os outros não é. 

A verdade é que nos enganamos muito facilmente
com tudo.
Com as amizades de ocasião, com o amor que muitas vezes 
nem amor é. 
Não passa de carência, medo de ficar só. 
Em meio "as loucas e insondáveis criaturas
humanas com almas de baratas", como diz Bukowski,  
às vezes calha de alguma ser um pouco menos escrota.
É o máximo que você vai encontrar.



                       

                             NO LUCRO







durante um bom tempo,
você foi
suficientemente forte
para conviver com um cara
problemático e carente pra cacete.

Fez o que foi possível, imagino
Gastou boa parte de sua preciosa
juventude, para dizer o mínimo

Assim, tentou até onde deu
até desapegar-se de quem não mudava.
Hoje me despreza.

Tudo bem, ainda estou no lucro.
Pois jamais poderei pagar
o que me deste
enquanto estivemos juntos.




segunda-feira, 30 de setembro de 2019


           

                        A LEI DAS SELVAS








As criaturas andam, nadam, voam.
Algumas correm, outras rastejam.
Todos se viram como podem.
Para comer e não serem comidas.
Ninguém está à salvo.
Mesmo os fortes um dia sucumbem.
Todos se igualam na impermanência das coisas.

Inclusive o bicho-homem.
Que faz isso tudo e um pouco mais.
Além de andar, nadar, voar, correr
e rastejar (por sinal, muito bem, quando lhe aprovem),
foi agraciado com a dádiva suprema de pensar.
Nem todos por conta própria, é verdade,
mas sempre apto a aprontar, engendrar, trapacear,
enfim,
tirar proveito de seu peculiar instinto de sobrevivência.
Peculiar em função de outra singular
característica : a maldade.
O prazer de espezinhar, de maltratar,
aniquilar seu semelhante.
Vocação eventualmente relacionada a crença 
em deuses
impiedosos e sanguinários.
Em nome dos quais as mais pavorosas matanças, 
flagelações e genocídios foram e são cometidos.

A lei das selvas é a lei da vida.
Desde os primórdios, tudo sempre esteve escadeado.
A cadeia alimentar, o processo evolutivo.
Segundo o qual, somos macacos civilizados.
                                    Em termos, é claro.
Afinal, quem destrói, polui, estupra, mata por sadismo,
pode ser tudo, menos civilizado.
Talvez porque, no fundo, não passemos de intrusos no planeta.
Vindos do espaço,
híbridos de alguma civilização mais avançada mas
degenerada.
Os deuses astronautas, de quem falavam os incas, maias,
e antigos povos já extintos.
Quiçá mais próximos da verdade do que 
o homem moderno e seus sofisticados apetrechos.

Fomos e continuamos proibidos de saber.
A perversa e sádica ordem mundial não deixa.
                                         A Igreja não deixa.
Já matou milhões para manter o monopólio da verdade
e a fé em santidades de araque.
A ciência evoluiu vertiginosamente
mas ainda não consegue responder 
as perguntinhas básicas que nos afligem desde sempre.
Deus existe ? De onde viemos ? Para onde vamos 
depois de morrer ?
Se é que viemos e vamos à algum lugar.
Ora, mais sensato é aceitar que tudo acaba 
como começou.
Em cinzas, barro, pó, merda.

As criaturas andam, correm, nadam, voam,
rastejam.
São programadas para tal.
Por quê, a propósito ou a troco de quê, ninguém sabe.
Quanto mais pensamos, especulamos,
mais confusos ficamos. 
Mais sujeitos às empulhações
e charlatanices nos vemos.
A lei das selvas ainda é a lei da vida.
Todos se virando como podem.
Basicamente,
para comer e não ser comido.















domingo, 29 de setembro de 2019


MOINHOS DE VENTO


Breves e pequenos momentos.
Breves e pequenas alegrias.
Breves e pequenas compensações.

É tudo que a vida nos reserva. 
Alegorias. Fantasias. Não faz diferença, 
posto que tudo breve e efêmero.

Há que ter consciência da transitoriedade de tudo.
Reter o essencial. A essência.
Antes que o tempo se esgote.
Que seja tarde.

Você sabe, 
o caminho do aprendizado é tortuoso.
As transições, os moinhos de vento, 
há que estar preparado para as mudanças, 
os excruciantes desafios.
Saber entrar e sair de cena.
Saber o tempo de cada coisa. 
Não procrastinar quando acaba, 
para não estragar o que foi bom 
enquanto durou. 




  

















O pior de bancar o idiota
é que ninguém te obriga a ser.
É por querer.










sábado, 28 de setembro de 2019




          velha e desaparecida amiga






Cantamos o amor.
Louvamos as amizades,
os laços familiares.
Certamente, sentimentos nobres,
que nos humanizam.
Porém, nem por isso à prova de tudo.
Sequer duradouros.

Notoriamente, os vínculos afetivos são os que 
mais sofrem
nesses tempos fluídos.
São tantos os apelos e distrações
que desaprendemos a amar,
a confiar.
A nos doar com a devida intensidade.

Justamente, pela falta 
do sentimento mais sublime.
O alicerce de todos os outros.
A capacidade de se por no lugar do outro.
E mais do que isso, sentir, 
tomar as dores
e aflições alheias como se fossem suas.

Sim, nossa velha e desaparecida amiga, 
empatia. 
A atemporal centelha que nos faz
verdadeiramente humanos.
Menos imundos.



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