sábado, 2 de novembro de 2019






                                   epitáfio






este silêncio com que me punes,
como um intervalo
entre o grito e o eco,
risca o espaço feito o voo de um pássaro,
cujo objetivo é falar, calando.

ainda não morri, mas é como se tivesse.
e o teu silêncio é meu epitáfio. 







quinta-feira, 31 de outubro de 2019





            O MARASMO EXISTENCIAL






Há coisas que duram quase uma eternidade. 
Outras, acabam no nascedouro.
Boas ou ruins, tanto uma como outra
tem data de validade.
Quando muito, algum elo fica.
De resiliência ou conveniência.
No bojo de tudo, o grotesco desfile 
de falsas virtudes.
A hipocrisia como pano de fundo.

A suposição de que o amor a tudo
supera 
é tão falsa quanto a ideia 
de que há valores incorruptíveis. 
Todos tem seu preço, e às vezes esse preço 
é bem menor do que imaginamos.
Como se sabe, o cotidiano é um massacre, 
e o véu que cobre a nudez moral 
não engana ninguém.
O acaso desarticula qualquer esperança
no sentido de consertar as coisas.
O abismo pode ser tanto o habitat
natural em que vivemos,
como entre as pernas de alguém
que desejamos.

O final é sempre o mesmo,
um contínuo retorno ao marasmo existencial.
A liberdade é intrinsecamente trágica.




(Adap. de ensaio de Luís Felipe Pondé)






                               
                       SERES VIRTUAIS



São tempos confusos, de valores difusos,
claustrofóbicos.
Na vida imensurável, o infausto, a morte 
sem aviso prévio.
No mundo errado sem conserto,
"a secular injustiça não se resolve."

O tempo flui, impiedoso.
Tanta coisa à fazer e nada se faz
que não implique em concessões, desencanto.
Tempos de mentiras, crueldade, putaria.
Difícil passar incólume, não se corromper. 
Resistir a tantos apelos.

Foi-se a vidinha simples e pacata,
o porto seguro da família, não obstante
o amor também se corromper,
na esteira dos frívolos valores vigentes.
Foi-se a gente confiável.
A vida honesta, decente.
Tudo metamorfoseado, atrelado à grotesca farsa 
ensejada pela revolução tecnológica,
à ditadura nefasta dos meios de comunicação.
Na qual somos condicionados, cooptados,
compelidos a ser 
mais seres virtuais do que reais. 







Postagem em destaque

                          o quanto sei de mim Faço do meu papel o sonho de um desditado.  Cavalgo unicórnios a passos lentos, para que o go...