segunda-feira, 18 de novembro de 2019




               Entre a Serpente e a Estrela



Há um brilho de faca
Onde o amor vier
E ninguém tem o mapa
Da alma de uma mulher.

Ninguém sai com o coração sem sangrar
Ao tentar revelar
Um ser maravilhoso
Entre a serpente e a estrela

Um grande amor do passado
Se transforma em aversão
E os dois lados lado a lado
Corroem o coração.

Não existe saudade mais cortante
Que a de um grande amor ausente
Duro feito diamante
Corta a ilusão da gente.

Toco a vida pra frente
Fingindo não sofrer
Mas o peito dormente
Espera um bem querer.

E sei que não será surpresa
Se o futuro me trouxer
O passado de volta
Num semblante de mulher.


(Canção de Zé Ramalho
Composto por por Paul Fraser/Aldir Blanc Mendes/ Terry Sttaford)

domingo, 17 de novembro de 2019


                       achados e perdidos

                 


Acende-se o fogo
e o fogo nos consome.
Pode a fé fazer do lobo, cordeiro ?
Fazer sincero o impuro sentimento ?

Uma voz insiste em perguntar
no meu ouvido : estás perdido ?
Ora, dentro de cada ser
há segredos insondáveis.
Uma eterna busca
nos achados e perdidos da vida.

Finda a juventude de memoráveis prazeres,
hoje os dias são todos iguais.
Me compraz a falta de perspectivas.
A vida sem planos e ilusões.
Liberto das esperanças nocivas,
sem precisar de ninguém.
Sem a premência de ser feliz.







                         A ESPERA 






A espera feita de angústia e promessas vãs. 
A espera feita de olhos sem luz, que apenas concede. 
A espera feita de vigília depois da noite assombrada.
A espera que se consola com a tecnologia. 

A espera é um peixe que salta e vai embora.
É o pássaro que não desiste de seu canto alegre e vago.
A espera é a crença anulada por decepções e despedidas.
A espera feita de prazeres distorcidos, preces não atendidas.
A eterna espera por coisas que não chegam, velhas condições, 
novos valores. 
A espera por sentimento que não detenho, 
por dias nos quais não me incluo.
A espera das palavras 
que não foram ditas, 
em que tudo se encerra.      


A espera pela compreensão e o perdão que nunca virá.





sábado, 16 de novembro de 2019




                      OS OUTROS *  

         
                 




Não damos motivos para decepções. 
Os outros, sim.

Não enganamos, não sacaneamos, nem damos mancada. 
Os outros, sim.

Não somos egoístas, pisamos na bola, damos desculpas esfarrapadas. 
Os outros, sim

Ora, seria bom se lembrássemos 
que para os outros,
nós somos os outros.

* adaptado de um poema de Mariluiza Campos



sexta-feira, 15 de novembro de 2019




                             
                              trairagem






Tanto esforço, 
tanto sacrifício,
correria.
Tanta dedicação, 
renúncia, desvelo,
para chegar à última
volta do parafuso
e a rosca espanar.
Vida traíra...






                              beijo molhado







As coisas às vezes ficam de um jeito
esquisito,
fogem do controle, 
não tem conserto.
Às vezes do nada
mas quase sempre gestadas 
ao longo do tempo.
Situações cotidianas, 
rotineiras,
cumulativas.
Até chegar o dia que o caldo entorna,
o copo transborda,
e tudo vai para as cucuias. 
Vidas, histórias,
com seus altos e baixos,
que de repente desandam,
como se não valessem nada.
Como se não tivesse valido
a pena.
E no entanto, é tudo que temos.
Dane-se que a vida tenha
tudo levado.
Ainda sinto o gosto do teu beijo
molhado.
E é tudo que importa.
Ter vivido o sonho.






quinta-feira, 14 de novembro de 2019



                                                   DICOTOMIA







A  vida requer que sejamos pacientes, 
reselientes, educados, prestativos, bem humorados,
bons filhos, pais responsáveis, cidadãos  exemplares, cumpridores 
de seus deveres, principalmente com o fisco,
eficientes, tolerantes, 
fortes,
sensíveis, solidários, honrados, éticos,
compreensíveis,
presentes, se possível brilhantes.
Ou seja, previsíveis, chatos, 
depreciados, mal-amados, otários,
infelizes. 
Porque se há algo que as pessoas não perdoam,
é alguém superior a elas.






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