terça-feira, 19 de novembro de 2019


     

               QUEM AVISA, AMIGO É






Sinto dizer mas enganaram você.
O amor não é essa maravilha que falam.
Para começar, já vem com data de validade.
Com custo-benefício pra lá de duvidoso.

Se não lhe disseram, digo eu :
acima do amor, vêm os interesses.
Ou seja, grana, vida boa, 
um mínimo de estabilidade.
Sem o quê, cedo ou tarde as coisas
degringolam.

Pois não pense que vão ficar com você
por muito tempo, se não puder sustentar a casa,
proporcionar algum conforto, segurança.
Pode até durar um tempo, 
por senso de responsabilidade, teimosia, 
ou falta de opções,
mas arrefecida a paixão,  
as insatisfações vem à tona.
E o enfermo amor padece, esfria.
Se acha que a chegada dos sonhados filhos
muda as coisas, muda sim : para pior.
Pois logo você se vê escanteado, em segundo,
quando não, em último plano.
Relegado à condição de mero provedor.

Estarei sendo radical demais ? Pode ser.
Não pense que estou aqui 
para desencorajá-lo. 
Nada disso, ao contrário.
Vá em frente, apaixone-se, curta intensamente,
a fase inicial costuma valer a pena.
Apenas não se iluda, vacine-se, 
esteja preparado para os efeitos colaterais.
O seu grande amor
amanhã pode ser seu maior desafeto. 
Alguém capaz de jogar sujo, falar barbaridades
apelar para golpes baixos
como você jamais poderia imaginar.
Daí o meu aviso.
A vida tem dessas falsetas.
Quem avisa amigo é.

























                  POR QUE ?





Por que não morre 
o que eu quero que morra ?
Por que só morre o que eu
não quero que morra ?
Aquilo que me é mais caro.
As crenças, a fé, a esperança...



segunda-feira, 18 de novembro de 2019




               Entre a Serpente e a Estrela



Há um brilho de faca
Onde o amor vier
E ninguém tem o mapa
Da alma de uma mulher.

Ninguém sai com o coração sem sangrar
Ao tentar revelar
Um ser maravilhoso
Entre a serpente e a estrela

Um grande amor do passado
Se transforma em aversão
E os dois lados lado a lado
Corroem o coração.

Não existe saudade mais cortante
Que a de um grande amor ausente
Duro feito diamante
Corta a ilusão da gente.

Toco a vida pra frente
Fingindo não sofrer
Mas o peito dormente
Espera um bem querer.

E sei que não será surpresa
Se o futuro me trouxer
O passado de volta
Num semblante de mulher.


(Canção de Zé Ramalho
Composto por por Paul Fraser/Aldir Blanc Mendes/ Terry Sttaford)

domingo, 17 de novembro de 2019


                       achados e perdidos

                 


Acende-se o fogo
e o fogo nos consome.
Pode a fé fazer do lobo, cordeiro ?
Fazer sincero o impuro sentimento ?

Uma voz insiste em perguntar
no meu ouvido : estás perdido ?
Ora, dentro de cada ser
há segredos insondáveis.
Uma eterna busca
nos achados e perdidos da vida.

Finda a juventude de memoráveis prazeres,
hoje os dias são todos iguais.
Me compraz a falta de perspectivas.
A vida sem planos e ilusões.
Liberto das esperanças nocivas,
sem precisar de ninguém.
Sem a premência de ser feliz.







                         A ESPERA 






A espera feita de angústia e promessas vãs. 
A espera feita de olhos sem luz, que apenas concede. 
A espera feita de vigília depois da noite assombrada.
A espera que se consola com a tecnologia. 

A espera é um peixe que salta e vai embora.
É o pássaro que não desiste de seu canto alegre e vago.
A espera é a crença anulada por decepções e despedidas.
A espera feita de prazeres distorcidos, preces não atendidas.
A eterna espera por coisas que não chegam, velhas condições, 
novos valores. 
A espera por sentimento que não detenho, 
por dias nos quais não me incluo.
A espera das palavras 
que não foram ditas, 
em que tudo se encerra.      


A espera pela compreensão e o perdão que nunca virá.





sábado, 16 de novembro de 2019




                      OS OUTROS *  

         
                 




Não damos motivos para decepções. 
Os outros, sim.

Não enganamos, não sacaneamos, nem damos mancada. 
Os outros, sim.

Não somos egoístas, pisamos na bola, damos desculpas esfarrapadas. 
Os outros, sim

Ora, seria bom se lembrássemos 
que para os outros,
nós somos os outros.

* adaptado de um poema de Mariluiza Campos



sexta-feira, 15 de novembro de 2019




                             
                              trairagem






Tanto esforço, 
tanto sacrifício,
correria.
Tanta dedicação, 
renúncia, desvelo,
para chegar à última
volta do parafuso
e a rosca espanar.
Vida traíra...



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