sábado, 14 de março de 2020



                             me ensina a esquecer ?  







Não, 
não vou te fazer o favor de morrer.
Não ainda. Não assim, de forma tão inglória. 
Ainda que já tenha morrido na antiga vida.
Afinal, não passo de um vulto
que perambula por aí.
Uma sombra do que fui.
Onde tudo é irreparável.
Talvez o próprio mundo tenha acabado.
Mas faria tudo de novo.

Você diz que morri
mas não acredito.
Não é como virar a chave. 
O coração fechado não é dono da memória.
Também me proibi de te amar,
mas os pensamentos retornam como aves
de arribação.
As lembranças estão em tudo.
Eu me lembro de tudo. Me ensina a esquecer ?
Quando se ama, quando se amou, 
todo tempo é presente eternamente.










sexta-feira, 13 de março de 2020



                     condições


Há condições em que amar e odiar
se fundem e se confundem.
Ao fim e ao cabo da excruciante jornada sem meio-termo,
a vida dá e falsifica.
Concomitantemente aos desatinos que precedem 
os desastres.
Posto que depois da abundância vem à escassez.
E o amor em ódio se transforma. 

As regras são arbitrárias.
Na transitoriedade de tudo,
é onde tudo acaba.
Adaptar-se é a única escapatória.
Co-habitar com as perdas, as doenças,
às condições extremas.
Às condições herdadas. 
Às falsetas do destino.
Aos erros crassos.
À falta de sorte.

Latos, desesperados, defraudados,
cegos, 
vivos e mortos passam da mesma forma.
Morrer em vida, que má sorte - a pior morte.   
Onde acaba o amor começa a dor.
Nas esferas da existência, a mão do tempo
retém o que poderia ter sido e o que foi.
O futuro emulado no engodo do passado.

Viver a morte dos sonhos, a dor dos vivos,
em meio a consciência do fracasso,
quando enfim caem todos os fingimentos,
eis a derradeira condição.




















segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020



                                                              Laços





Tudo muda. 
De repente, um a um,
os entes queridos se vão. 
Num instante todos somem,
e tudo aquilo que se conhecia,
que se tinha,
as coisas que fazia, em que acreditava, 
mudam para sempre.

É o drama recorrente da vida.
Perder tudo, à revelia do mundo sem nexo.
Ficando apenas traços imperfeitos no tempo. 

Somos muitos e, no entanto, estamos sós.
Descartados, afinal, já tendo cumprido com seu papel.
Quando muito tolerados, 
poucos tem a sorte de contar 
com o amor incondicional.
A quanto a vida nos obriga, 
quando os laços não são eternos.



















Nada mais sábio
do que ficar em silêncio, 
quando a ocasião exige.
Não o silêncio da anuência, da omissão, 
mas o da resignação perante aquilo que
não pode ser mudado.
Mormente em relação à ignorância
e ao mau caratismo.








Pior do que não saber
é achar que sabe.
É querer convencer os outros 
do que acha que sabe mas não sabe.




domingo, 23 de fevereiro de 2020



            SUSPEITA 







O mais triste não é a separação em si.
O fim de uma longa e tempestiva relação.
Acontece.
Doloroso mesmo é não vê-la mais
com os mesmos olhos.
É ver o que não via, anestesiado 
pelo narcótico do amor.
É saber que provavelmente superestimei 
o que tínhamos. Que provavelmente
nunca a conheci.
Ver que é capaz de jogar tão baixo,
apelar para os mais vis ardis.

E tudo para quê ?
Justificar o fim daquilo que talvez
nunca tenha existido ?
Ou que findou, sem percebermos ?
Mas que de qualquer forma,
em nome dos bons momentos,
que foram muitos, 
não merecia acabar de maneira 
tão deprimente.
Daí a suspeita de ter vivido uma grande farsa.
As coisas perdidas confundem
o desenganado coração. 














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