terça-feira, 21 de abril de 2020




                                      A evocação dos tolos






Escrever é evocar o que não se consegue viver.
É projetar na escrita um mundo interior
que nem sempre, ou quase nunca, 
encontra correspondência na realidade.
Posto que o que se vê, 
o que se vive, 
não passa de interpretações pessoais de coisas
invariavelmente distorcidas,
meras versões fantasiosas do que,
cedo ou tarde, se revela completamente
diferente do que parecia.

Quem ama, 
ou pensa que ama, 
está sempre propenso à exageros,
juízos e conclusões equivocadas,
aos arroubos típicos da paixão.
Que como se sabe,
ofusca, obnubila o bom senso, a razão.
Daí não raro soarem patéticos,
inconvenientes, e até mesmo chatos
os versos com que se pretende enaltecer
a mulher amada, a musa inspiradora. 
Pior ainda quando 
no afã de reconquistá-la, 
fazê-la voltar,
evocando o antigo amor para ela, 
morto e enterrado.

Ao quê,
longe de compartilhar do mesmo sentimento,
sequer entender o teor de versos,
faz a gente parecer 
ainda mais tolo do que o normal.














                                                 ANACRÔNICO, EU ?




Sim, eu sou do tempo em que a palavra 
tinha valor.
Em que honestidade era uma obrigação,
e não uma virtude.
Em que era preciso suar a camisa
para comer a namorada.

















A verdade nua e crua do ritual de acasalamento
de hoje em dia, é que,
enquanto o apaixonado fica de lero-lero,
outro vêm e come.  



domingo, 19 de abril de 2020



                      coração flibusteiro






Nem te tive
e já te perdi.
Mala suerte, a minha.
Do antigo amor esqueci,
graças a ti.
Cujo bem, no entanto, 
logo se extinguiu.
Se é que chegou a existir.
Deixas a minha vida do mesmo jeito
que entrou.
Vinda de não sei onde,
Indo para aonde esconde
aquilo que nunca chegou 
a me dar.
O coração flibusteiro.



sábado, 18 de abril de 2020




                                                            vai vendo






Se a sensibilidade olfativa fosse transferida
para a auditiva, 
certos gêneros musicais teriam um cheiro
insuportável.


A mulher é o único animal que faz sexo sem ter vontade.  


O sexo só traz desvantagens para o homem. 
É trabalhoso, sai caro, atraí um monte de problemas, entre os quais o risco de doenças e gravidez indesejada. Sem falar que dura muito pouco. E ainda há quem se gabe de ser pegador.


O ideal é ter sem o ter te foder. 
(Adap. Millôr Fernandes)


Todos traem. Todos são traídos. Quem não trai é por falta de oportunidade, imaginação ou atrativos.


Todos mentem. Quem não mente, omite. O que vêm a dar na mesma.
















sexta-feira, 17 de abril de 2020




                             
                                                 


                                                            escolhas







Quis muito conhecer quem
que me fizesse esquecer o amor
que não conseguia esquecer.
Tudo o que consegui
foi conhecer quem
que me fez valorizar ainda mais
o amor que não consigo esquecer.
O que não era comprado,
era dado.
Escolhas, sempre as escolhas...
Foda-se, eu.




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