domingo, 3 de maio de 2020
envelhecer
Envelheci e nem me dei conta.
Com tanto ainda à fazer.
Os livros não lidos continuam espalhados.
Não conheci a Patagônia, nem fiz o caminho
de Compostela.
Sequer voltei a ver o morro azul do Agudo,
da minha terra natal.
Onde queria visitar
o túmulo da grossmutter querida.
Não publiquei meu livro, não vi o Grêmio
ser campeão mundial novamente,
nem tive uma filha - mas aí já seria demais.
O tempo deveria respeitar nossos projetos.
Ainda que fazendo um pacto com o diabo.
Se bem que com Deus seria melhor.
Se me deixasse errar mais um pouquinho.
O tempo envelhecer
mas não eu.
sábado, 2 de maio de 2020
DESCOMPLICANDO
Existe uma maneira muito simples de lidar com as coisas complicadas : ignore-as.
Nenhuma conquista vale o preço que não pode ser pago.
O melhor só é o melhor se for para
melhorar.
Ninguém vai longe sem saber onde pisa.
O destino pode ser aleatório. A vida que escolhemos, não.
Não me envergonho nem lastimo pelo que fiz, e sim pelo que deixei de fazer.
Muitos tentaram me derrubar. Muitos procuraram me humilhar. Só eu consegui.
Ninguém vai longe sem saber onde pisa.
O destino pode ser aleatório. A vida que escolhemos, não.
Não me envergonho nem lastimo pelo que fiz, e sim pelo que deixei de fazer.
Muitos tentaram me derrubar. Muitos procuraram me humilhar. Só eu consegui.
sexta-feira, 1 de maio de 2020
o mal necessário
Dar palavras aos sentimentos, ah,
tarefa ingrata.
O mistério das coisas está
em não se mostrar.
Sentir vale mais do que pensar.
Porque o sentido oculto das coisas
é o que dá sentido ao sentir.
As imperfeições, o pecado,
o mundo doente é o que o
torna atraente.
Ser feliz o tempo inteiro
deve ser bem chato.
A vida só têm valor se sofrida.
Para se dar valor ao que se tem.
Se "todo mal do mundo vem de nos
importamos uns com os outros",
ora,
então
convenhamos,
o mal é um mal necessário.
o fim do mundo
Formigueiros humanos se amontoam nos guetos,
nas periferias das grandes cidades.
Chafurdando no próprio lixo,
comendo restos, coabitando com outros
especialistas na arte de sobreviver,
ratos, baratas,
eventualmente petistos
de uma certa gente.
Há gente demais no planeta.
Não há comida suficiente.
Não há trabalho para todos.
Os recursos naturais se esgotam,
a começar pelo mais precioso : água.
Chegará o tempo em que a auto-exterminação
será inevitável.
De uma forma ou de outra.
Além dos motivos de sempre - fome, massacres,
guerras -,
vírus letais que se propagam silenciosamente.
Qual o pior cenário ?
Levantes generalizados, o postergado holocausto
nuclear, ou pilhas de cadáveres se amontoando nos
necrotérios, nas ruas ?
A vida nunca mais será a mesma de ontem.
O sol continuará brilhando, mas para poucos
eleitos.
O luto, o fumo dos destroços
tudo ofuscará.
O próprio sol se cobrirá de sangue ao entardecer
de cada dia, como que à homenagear
os que se foram.
Não mais guerreiros, mas mercenários.
Não mais heróis, apenas testemunhas
do aniquilamento gradual da esperança,
da fé numa vida melhor.
O mundo soçobra em meio a degradação moral,
a falta de escrúpulos dos governantes,
ao massacre contínuo a quê as pessoas de bem
são submetidas.
O mal triunfou.
O mundo acabou.
Aliás, nem chegou a existir.
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