domingo, 10 de maio de 2020
sexta-feira, 8 de maio de 2020
dona Dalila
do que nunca nesses tempos de pandemia,
me peguei pensando, como sempre acontece em meio a alguns tragos, numa das últimas conversas que tive com minha
finada mãe, enquanto ainda lúcida, mas já virtualmente pregada
me peguei pensando, como sempre acontece em meio a alguns tragos, numa das últimas conversas que tive com minha
finada mãe, enquanto ainda lúcida, mas já virtualmente pregada
numa cama, na casa da minha mana Ingrid, que por
sinal, Deus também levou pouco tempo depois.
"E você, meu filho, está feliz ?".
"Claro, mãe, por que pergunta ?"
"Porque me preocupo. Você sempre fez tudo por tua família,
sinal, Deus também levou pouco tempo depois.
"E você, meu filho, está feliz ?".
"Claro, mãe, por que pergunta ?"
"Porque me preocupo. Você sempre fez tudo por tua família,
será que eles vão fazer o mesmo por ti quando tu ficar velho ?
A tua mulher, tão mais nova que tu ?"
"Mãe...Não se preocupe. Ela me adora..."
Ah, minha mãe, dona Dalila. Não era nenhum amor de sogra,
"Mãe...Não se preocupe. Ela me adora..."
Ah, minha mãe, dona Dalila. Não era nenhum amor de sogra,
mas enxergava longe.
a droga da vida
Nada é tão grande que não possa perder sua essência
ao contato furioso da existência.
Entre o começo e o fim, só o que fica é aquilo que, revelado,
não pode mais ser mudado.
Nem fazer mal.
Mas cabe ao acaso a palavra final.
Quer vivamos ou não, há os que sofrem, e há os que pensam que sofrem,
alheios ao real significado da dor.
Mal sabem o quão privilegiados são
às vezes pelo simples fato de sobreviver,
em meio a tantos que tombam. Do nada, sem critério,
apenas porque chegou a hora.
Por que desaprendemos ao aprender ?
Talvez porque aquilo que nos dá prazer
muda com a gente.
Faz a gente mudar.
Geralmente para pior.
E quando já nada nos satisfaz, a droga da vida literalmente
nos consome.
À míngua de tudo que se quis.
quinta-feira, 7 de maio de 2020
quarta-feira, 6 de maio de 2020
verba volant, scripta manent.
(Palavras voam, a escrita permanece).
Mais que ninguém, sei muito bem
da veracidade de tal provérbio latino.
O que escrevi está à mão, ou melhor,
à vista e ao permanente escrutínio
de qualquer cada um. Depondo contra
ou a meu favor.
Se de algum valor ou simples asneiras,
vai de cada um julgar.
O problema (do entendimento) está na proposta
pretensiosa desses escritos.
Na pretensão de fazer literatura.
O que exige método de abordagem, apuro, conteúdo.
Algo que não me sinto em condições de avaliar.
Ainda mais sendo iminentemente sentimentais,
contrariando o que ensina mestre Fernando Pessoa,
para quem o poeta "deve viver cada estado da alma
antes pela inteligência que pela emoção".
O que explica soarem como um recorrente libelo
pessoal, cuja narrativa se desgarra da obrigação
de serem palatáveis, de fácil leitura.
Em meu desdouro, mas se assim não fosse,
não seria eu.
,
terça-feira, 5 de maio de 2020
MEU TRIBUNAL INTERIOR
Entenda, é elementar.
Quem gosta, se importa,
faz de tudo para agradar.
Até o que não deve, excede,
prescreve, se empenha em dar.
Porém, o amor
não se satisfaz tão somente em amar,
exige correspondência, reciprocidade,
para não definhar.
Toda vez que amei, acreditei que me amaram
com a mesma intensidade,
talvez até mais,
naqueles momentos em que
o encantamento encantava quem mais
amava,
não sendo eu capaz de amar
como hoje amo.
E como disto eu sei, agora que me vejo
a andar só,
ao mesmo tempo gostando
de andar só,
e quase me esquecendo do que sinto ?
Ora, sei porque foi preciso perder
para me achar.
Assim como o cego segue o seu caminho
sem precisar enxergar.
O último nó foi desatado : a carência
nos faz sentir afetos que não existem.
Sim, vai tudo de gostar. Ainda mais quando
se crê amado.
Porém, a realidade é uma espécie de sono
que temos,
e como disse o poeta, pensar é essencialmente
errar.
E não há erro maior do que pensar que conhece
ao outro. Nem a suposta alma gêmea. Muito menos
a suposta alma gêmea !
As verdades em que acreditamos não são
confiáveis.
Ninguém se importa a não ser
consigo próprio.
A maravilhosa beleza do amor
é pervertidamente fugaz.
Essa gente ordinária e suja é que está certa.
Ser inferior é libertador.
É poder abdicar de pruridos morais, inúteis
dores de consciência, não se importar
com o que não dá retorno,
onde não há contra-partida.
Ah, quão pouco eu fui do que eu
queria ter sido. No entanto, fui o melhor
que pude. Fiz um monte de merda, fiz coisas
vergonhosas,
mas meu tribunal interior
nunca deixou de me acusar.
Daí, talvez, a severa pena que cumpro
sem direito à indulto.
Me importar com quem não se importa comigo.
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